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segunda-feira, 18 de junho de 2018

A noite é uma criança e não está órfã - entrevista com Silvia e Fernando, do Sub Club Cultural (que inaugura sexta-feira, 22/6 em POA)

A noite é uma criança e, como tal, não pode ficar órfã de quem a dê um bom direcionamento. Por sorte, há quem esteja com disposição para servir de pai & mãe à essa jovem misteriosa que testemunha de um tudo sob a bênção da lua. Os produtores Silvia Amaral e Fernando Leggerini de Figueiredo estão entre os corajosos tutores do período em que todos os gatos são pardos. E, agora, eles inauguram um abrigo para acolher todos os que buscam diversão junto àquela que adotaram. É o Sub Club Cultural, espaço para quem produz cultura — nas suas mais variadas manifestações — mostrar seu trabalho, além de um portal para noites repletas de satisfação embaladas por diferentes ritmos na companhia de gente que não se apega a rótulos. A casa, com localização privilegiada (Joaquim Nabuco, 288 — Cidade Baixa), recebe os irmãozinhos de boemia a partir de 22 de junho, às 22h.



Aproveitando esse clima de recém-nascido do empreendimento, Silvia e Fernando contam mais, na entrevista que segue, sobre o projeto — que se propõe a ser um lar para a arte e o entretenimento porto-alegrense. Entre os temas abordados na conversa, estão a concepção da iniciativa e os planos de que ela cresça respeitando a diversidade.


São tempos bicudos, principalmente em razão da crise que acomete o país. Por que acreditam valer a pena investir em um espaço de cultura/lazer, atividades que acabam sofrendo quando as pessoas precisam economizar?

Silvia — Não só acredito, mas tenho convicção da carência que nossa cidade tem de um espaço acolhedor, sem barreiras de acesso e, principalmente, com a idéia de misturar culturas. O Sub Club Cultural é um espaço com foco em proporcionar experimentações de culturas diversas. Dar e receber oportunidade de conhecimento em música, expressões, opiniões e afins. Estamos investindo na contramão, não só de uma situação de crise financeira no país, mas também de uma falha/caos de educação e cultura — que vivemos há tempos. E, felizmente, somos loucos/corajosos para isso.

Fernando — A grande pobreza de um país como o Brasil está relacionada com educação e cultura. Se tivéssemos essas duas, talvez não fôssemos tão pobres. Mesmo em tempos de crise, quando é preciso poupar, a gente acredita que há um grupo de pessoas que já está fazendo a diferença escolhendo o caminho da arte. Inclusive as subculturas, que não recebem apoio de ninguém. E por isso que o nome do nosso espaço é Sub Club Cultural. A gente entende que é preciso economizar, mas é preciso investir um pouco para ter conhecimento, para curtir bons momentos e ter experiências bacanas. Em razão disso, nosso objetivo é trabalhar sempre com preços acessíveis. Cultural é nosso legado no mundo.


Além da questão financeira, também vivemos um outro problema nos dias de hoje: o distanciamento entre as pessoas — ou o enclausuramento em nossas próprias bolhas. De que maneira um espaço como o Sub Club Cultural pode funcionar como um agregador, onde se pode encontrar e curtir bons momentos ao lado de gente diferente?

Silvia — A ideia sempre foi a miscigenação de culturas/ritmos/ acontecimentos/conhecimentos. Nossa casa possui dois espaços: o pub e o club. Por exemplo: dia 7 de julho, teremos dois eventos. Às 17h, a DJ Débora Blanck no pub com um projeto de música eletrônica tranquilinha, e às 23h a festa London Calling, de rock britânico e indie, no club. Tipo liquidificador musical E abusadamente queremos mais! Tipo, no pub um choro, e no club um reggae. Daí para frente, com gelo e limão.

Fernando — A gente estava lembrando que, antigamente, as festas começavam com MPB, depois tinha hip-hop e acabava com música eletrônica. E hoje, aqui em Porto Alegre, a gente vê a cena toda dividida em grupos: do rock, do metal, do eletrônico... Além dos subgrupos desses grupos. Notamos que gente de um determinado nicho vai nos eventos da sua galera, mas não em outros. Isso faz com que casas maiores não consigam ter festas tão legais porque não rola esse caráter eclético entre os frequentadores. A gente percebeu que as tribos são menores. Nosso espaço tem capacidade para 300 pessoas, que é ideal para acolher essas diversas subculturas. Nossa pretensão é unir todas essas turmas, fazendo festas com mais de um estilo. No começo, faremos eventos separados para cada um. Só que temos a ânsia de fazer atividades mais diversificadas quanto aos estilos. Estamos estudando como fazer isso sem parecer forçado, mostrando para o pessoal que unir tribos é legal.


Aliás, a ideia é de que a casa transforme-se em uma espécie de segundo lar dos frequentadores. O que vocês pretendem fazer para isso?

Silvia — Acho que isso já está rolando. O Sub Club Cultural já está sendo a casa de muitas pessoas. Mesmo fechado e ainda sem ter inaugurado oficialmente, todos os dias tem, em média, 15 pessoas indo visitar o espaço. DJs, expositores, artistas em geral. Está acontecendo de uma maneira muito louca, e isso está deixando a gente muito feliz. É algo que já está se criando com naturalidade.  Acho que, quando estamos dispostos a fazer as coisas darem certo, isso contagia. Nossa casa já está se tornando ponto de encontro de cabeças pensantes na Cidade Baixa. Um local para quem ama cultura, para aqueles que apreciam conhecer e produzir, e todos que estão dispostos a participar de alguma forma desse meio.


E por que inaugurar um lugar assim agora? Por que sentiram que valia a pena deixar para trás outras atividades (empregos) e investir nisso?

Fernando — Somos frequentadores da noite, além de trabalhar nela — não apenas da noite, mas principalmente nela, pois atuamos profissionalmente em shows, festas e outros eventos noturnos. Foi a escassez de clubs com uma ideia diversificada que nos motivou. Por isso que a gente acredita que o nosso club é diferente dos demais, tanto na ideia de ser para todos quanto na de ser um local para qualquer tipo de manifestação. Isso sem falar no formato! Pub e club juntos nunca houve em Porto Alegre. Queremos o formato dos antigos clubs, com pista “inferninho”.

Silvia — Porque eu adoro sair da zona de conforto, sou maluca e acredito nos meus ideais. Acho que isso é o principal: saber que podem ser feitos projetos muito legais e acreditar, com todas as forças, que o nosso empreendimento, nosso club, é um espaço diferenciado. Que a gente vai proporcionar situações, experimentações e experiências únicas, que Porto Alegre não tem. Nossa bagagem nos dá essa segurança.


Qual o conceito da casa? Que públicos o espaço quer atingir?

Silvia — O conceito da casa é não ter conceito. O público que desejamos atingir é gente que gosta da noite, que pensa fora da caixa, que não tenha preconceitos (em um sentido bem amplo). Pessoas que querem experimentar, ter contato com todos os tipos de cultura, participar de situações que elas não estão acostumadas. Tipo: eu curto reggae, mas se entrar no Sub Club Cultural e perceber uma parada de música eletrônica ou um rock'n'roll ou um choro, isso não quer dizer que eu não vá curtir, que não vai ser bom. Queremos pessoas que curtam artes e que não tenham a mente fechada, pois o Sub Club Cultural é aberto ao novo.

Fernando — O conceito da casa é cultura: todos os tipo de culturas, inclusive as que não conhecemos e podemos vir a ter contato. Tudo será bem-vindo, desde que planejado e organizado. O Sub Club Cultural não vai ser só mais um bar/danceteria porque quem vai dar a cara da festa é o produtor. É ele quem vai criar a identidade do evento. A gente oferece o espaço. O bar abre de terça a quinta-feira versão pub. O que não quer dizer que não possa ter agendado um evento na pista nesses dias.


Por que o Sub Club Cultural não vai ser só mais um bar/danceteria/club? Quais os diferenciais?

Silvia — Porque ele não é nada disso e tudo isso ao mesmo tempo. A brincadeira está indo para esse caminho de mistura, de troca, de coletividade, que o conceito da casa já nasce diferente de tudo que conheço aqui em Porto Alegre. Até porque o grande diferencial é que vivemos a noite, por sermos boêmios, por curtirmos e trabalharmos na noite, estarmos imersos nisso de uma forma incansável diariamente. Posso falar isso por mim, que trabalhei muitos anos numa casa de shows/boate que é referência, que isso é incrível. Saber tudo que é preciso para uma noite dar certo. Independentemente do gosto musical, de credo ou preferências políticas, todo mundo gosta de ser bem atendido. De receber um sorriso, de ser tratado com respeito em meio a uma mistura de públicos e culturas.

Fernando — Eu sou técnico de som e músico. Então, sempre sofri com a questão técnica do áudio. Logo, quando rola a possibilidade de fazer isso bem feito, quero aproveitar. O som é o coração da casa, que faz pulsar o resto todo. Não tem quase nenhum evento em que não se use o som do local. No Sub Club Cultural o som vai ser com PAs pendurados (fly PA), sub grave embaixo. Teremos toda um set com palco. O que era para ser algo que todas as casas deveriam oferecer, mas poucos fazem isso com qualidade. Temos ainda como diferenciais: preço, localização e o qualidade no atendimento. Estamos dando muita atenção a isso! Todo nosso pessoal está recebendo treinamento para os mais variados tipos de situações — brigas, por exemplo — e para lidar públicos diversos, como o trans. Temos uma cartilha de orientações para nossos colaboradores. Estamos nos preparando para todas as situações possíveis.


E o nome, de onde veio? Todas as palavras ali parecem ter importância para aquilo que o Sub Club Cultural se propõe. Podem explicar, por favor?

Fernando — Sub Club Cultural porque é um club (sexta-feira e sábado); Cultural pois é aberto à manifestações distintas; e sub porque muitas culturas legais acabam sendo menosprezadas e não têm visibilidade. Nos identificamos e estamos abertos para elas. Pode bater na porta que iremos atender e ouvir tua ideia. Se vai mesmo rolar, a gente precisa conversar. Mas vamos escutar todos que têm propostas.



Por Homero Pivotto Jr.
(Jornalista e assessor de Imprensa)


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