sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Fubango: projeto do músico Marcelo Guimarães, terá lançamento no Ocidente Acústico

Marcelo Guimarães tem uma sólida e criativa carreira. Inquieto, o artista está sempre mirando em frente e por isso sua trajetória chama a atenção na diversidade de bandas que criou e nas músicas que compõe. O lançamento do novo trabalho da Fubango, com uma banda respeitável formada por Gabriel Guedes (guitarra), Sting (Baixo), Thiago Henrich (acordeão, violão, guitarra, teclados), Piquet Coelho (bateria) e o próprio Marcelo na guitarra e vocais, promete uma noite e tanto no velho casarão da Osvaldo Aranha. E mais: já tem algumas participações especiais confirmadas, entre elas, Marcelo 4Nazzo, Edinho Espindola, Luciano Granja, Regis Sam e Thomas Dreher.

Crédito: Marcelo Nunes

A apresentação integra o longevo projeto Ocidente Acústico, da Rei Magro Produções e o show será dia 24 de outubro, às 23h. A casa abre às 21h30. Confira o texto de Paulo Scott sobre este novo trabalho de Marcelo Guimarães.

FUBANGO por Paulo Scott

Fubango é o novo projeto/banda do compositor e vocalista Marcelo Guimarães. Depois de bandas como A Sacanagem Explícita, Fu Wang Foo, Bixo da Seda, Robô Gigante - lá se vão praticamente 30 anos -, Marcelo parte pra mais essa empreitada. Muito difícil desvincular a letra de uma canção da própria canção. Músicas têm sempre uma narrativa a mostrar, a letra é parte essencial do jogo de entreter, de contar, de formular empatias, às vezes imediata, às vezes nem tanto. Tenho admiração enorme pela gente da música, pelos compositores, mas, como escritor, tenho admiração redobrada pelos bons letristas. O Rio Grande do Sul, não importa o gênero musical, sempre foi lugar de bons letristas.

Não tenho dúvida ao afirmar que entre os melhores, compositores, letristas, da música brasileira contemporânea está o Marcelo Guimarães. Acompanho seu trabalho desde o primeiro disco da sua banda Fu Wang Foo, isso lá da virada de século, depois na Robô Gigante (um verdadeiro time dos sonhos do rock feito no sul) e no Bixo da Seda (banda emblemática do rock gaúcho, banda da qual faz parte desde dois mil e seis e que volta e meia ainda se reúne pra shows), a vivacidade dos versos, das estrofes, dos refrãos que compõe e, como não dizer, a marca inconfundível de suas interpretações, alinhando-se à melhor tradição da música popular brasileira e ocidental, às dicções e legados de um Lupicínio Rodrigues, de um Nei Lisboa, de um Júpiter Maça, misturando elementos inusitados, reforçando, de um modo cru, mas ao mesmo tempo estranhamente singular e bem elaborado, a busca a partir do que realmente interessa quando o propósito é afetar, empolgar, emocionar.

Neste trabalho, Marcelo, que já teve composições gravadas por gente como Wander Wildner e Dado Villa-Lobos (Legião Urbana), confirma sua vocação autoral, sua capacidade de se cercar dos músicos mais talentosos – com ele estão lendas da cena roqueira sulista como Fughetti Luz, Edinho Espíndola, Marcos e Mimi Lessa, Biba Meira, Marcelo Truda, Flavio Flu Santos, Gabriel Guedes, Gustavo Telles, Marcelo 4Nazzo, Milton Sting, Regis Sam, Luciano Granja, Thomas Dreher (que assina a produção do disco junto com Marcelo) –, vale destacar a lúdica participação do seu filhote Bento Guimarães, mas, mais do que tudo, se afirma como hábil mestre da mistura (da costura) de sentimentos e sensações.

Os mais atentos perceberão, logo na primeira audição deste “Fubango” – não sei se capto a intenção do nome desse projeto, porque o termo é regionalista e varia, significando muitas coisas, quase todas relacionadas à ideia de uma pessoa, de uma personalidade, torta, desviada, desajustada, desencontrada, capaz de estragar situações favoráveis, capaz de desgraçar e se desgraçar –, que nele há certa pegada dramatúrgica, certa conexão operística saliente, e uma coerência, uma forte ligação, entre as músicas, não tanto pela disposição, mas pelo acomodamento temático, de narrativas que se agregam sob um olhar que, ao mesmo contemplativo e inquieto, registra densidades, intensidades, bonanças, desafogos, alívios, amizades, amores, urgências, reencontros, ganas, renovações, intimidades que sempre carregam um tanto de céu e outro tanto de inferno, alegria de quem passou por momentos extremos e sabe que no olho do furacão se esconde a calmaria.

A primeira faixa, “Mantenha as Coisas Simples” é um hino ao afeto sincero, à simplicidade, ao bom grado, às pouquíssimas coisas que de fato importam na existência. “Outros Canais” – e o seu testemunho da solidão e das formas como escolhemos atravessá-la – é crônica dos momentos e fases que nos jogam na cara o quanto frágeis e humanos somos e continuamos sendo, não importa o quanto estejamos cercados de bens e tecnologias, do quanto precisamos mesmo é ficarmos tranquilos.

A cumplicidade entre as vozes de Marcelo Guimarães e Fughetti Luz em “Assim Definha a Humanidade” soam carregadas de uma acidez irônica e áspera em relação aos novos tempos.

“Contar Vantagem”, com a guitarra inconfundível de Marcelo 4Nazzo e a bateria mais do que segura do Gustavo Telles, é a velha e boa grande história de amor que em algum momento chega ao fim, é daquelas faixas que se fica escutando e a cada vez tocada se descobre um elemento novo, um detalhe a mais – essa é, a propósito, uma característica não apenas desta faixa, mas do disco inteiro, o que confirma a força das composições.

“Pode Ser Bem Mais” expõe a perda do irmão mais novo (não consigo imaginar o impacto de uma ausência dessas), um comovente acerto de contas com a finitude e sua irmã gêmea a infinitude; com uma execução primorosa do guitarrista Gabriel Guedes, uma das minhas preferidas. Impossível não se enternecer.

“O Velho”, rock do bom, enfrentando o tema do deus tempo (preste atenção na versão bônus dessa música, faixa dançante com a trinca original de Bixos da Seda Marcos Lessa, Mimi Lessa e Edinho Espíndola quebrando tudo); na mesma linha e na mesma pegada de “Ir Além”, na qual a dupla da cozinha Flavio Flu Santos e Biba Meira, juntos a guitarra certeira de Marcelo Truda, brilha demais.

Não tem como não destacar a belíssima “Depois da Tempestade”, um super hit trabalhado na tênue linha da dubiedade, explorando a mitologia da morte, relacionando- a com a força, com o enigma, do feminino, mostrando que a fé é apenas um fator preso a um cenário muito maior em que somos desafiados a ficar de pé.

Um disco notável, um disco que não hesito em recomendar.

Crédito: Marcelo Nunes

Ficha técnica do Disco :

Mantenha As Coisas Simples
Intervenções vocais: Bento Guimarães
Vocal e violão: Marcelo Guimarães
Violão e Guitarra: Gabriel Guedes
Bateria: Thomas Dreher
Baixo: Milton Sting

Outros Canais
Bateria: Thomas Dreher
Baixo: Marcos Lessa
Violão e Guitarra: Gabriel Guedes
Vocal e Violão: Marcelo Guimarães

Saiba Se Perder
Baixo: Marcos Lessa
Dobro: Luciano Granja
Acordeon: Daniel Castilhos
Vocal, Violão, Guitarra e Percussão: Marcelo Guimarães
Shake: Thomas Dreher

Contar Vantagem
Guitarra: Marcelo 4Nazzo
Baixo: Regis Sam
Bateria e Shake: Gustavo Telles
Vocal: Marcelo Guimarães
Violão e Guitarra Base: Gabriel Guedes

Um Ou Dois Acasos
Baixo: Milton Sting
Guitarra: Gabriel Guedes
Bateria: Thomas Dreher
Vocal e Violão: Marcelo Guimarães

Assim Definha A Humanidade
Vocais: Fughetti Luz e Marcelo Guimarães
Baixo, Guitarra e Violão: Gabriel Guedes
Bateria: Edinho Espíndola

Pode Ser Bem Mais
Baixo: Marcos Lessa
Bateria: Edinho Espíndola
Guitarra: Gabriel Guedes
Vocal e Violão: Marcelo Guimarães

O Que Te Faz Ser Melhor
Vocal e Violão: Marcelo Guimarães
Bateria: Edinho Espíndola

O Velho
Baixo e Guitarra: Gabriel Guedes
Bateria: Edinho Espíndola
Vocal, Violão e Guitarra: Marcelo Guimarães
Shake: Thomas Dreher

Ir Além
Bateria: Biba Meira
Baixo: Flu
Guitarra: Marcelo Truda
Vocal: Marcelo Guimarães

Depois da Tempestade
Bateria: Edinho Espíndola
Baixo: Marcos Lessa
Vocal: Marcelo Guimarães
Guitarra, Baixo (introdução), Violão e Órgão: Gabriel Guedes

Ver O Sol
Dobro: Luciano Granja
Bateria e Cordas de Piano: Thomas Dreher
Acordeon: Daniel Castilhos
Baixo: Claudio Knorr
Vocal e Violão: Marcelo Guimarães

O Velho (versão Bixo da Seda)
Guitarra: Mimi Lessa
Baixo: Marcos Lessa
Bateria: Edinho Espíndola
Vocal: Marcelo Guimarães

FUBANGO e Banda
Dia 24 de outubro, 23h (a casa abre às 21h30)
Bar Ocidente – Avenida Osvaldo Aranha 960
Ingressos: R$ 30,00 (no local, na hora do show)




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