O Arena Heavy entrevistou Dani Nolden, vocalista do quarteto que é uma das maiores revelações do Heavy Metal brasileiro e mundial. A Shadowside já recebeu os prêmios de melhor banda, melhor álbum, melhor show e melhor vocalista por diversos meios de comunicação de jornalistas respeitados como Airton Diniz (Roadie Crew) e Rafael Carnovale (Whiplash.net).
Arena Heavy: Obrigada Dani pela entrevista. Para quem não conhece a Shadowside, conte como a banda se formou?
Dani: Nós começamos oficialmente em 2001, como uma banda sem grandes pretensões. Éramos apenas um projeto de estúdio, mas a banda acabou agradando, foi tão bem recebida que em menos de um ano de estrada nos vimos abrindo para bandas como Nightwish e Primal Fear. Em 2006, lançamos nosso debut album Theatre of Shadows, seguido de uma turnê com o Helloween aqui no Brasil. Esse trabalho teve uma repercussão fantástica no Mundo inteiro e abrimos muitas portas a partir dele. Em 2007, começamos a preparar um novo material, ao mesmo tempo em que nos preparávamos para a primeira turnê nos EUA. Desde então temos feito vários shows no exterior, bem mais que aqui no Brasil, estivemos cinco vezes nos EUA e duas na Espanha. A turnê mais recente, promovendo o Dare to Dream, passou por esses dois países e por algumas cidades do Brasil. No entanto, a nossa intenção é continuar na estrada em 2010, realizar mais alguns shows tanto aqui como lá fora, antes de voltarmos ao estúdio para começarmos a trabalhar em um novo disco.
Arena Heavy: Você sente algum tipo de preconceito por ser mulher com mais o agravante de ser uma mulher bonita, uma frontwoman?
Dani: Não, eu nunca me senti prejudicada por ser mulher! Existem alguns rótulos que são atribuídos a bandas com mulheres, mas não acredito que isso tenha atrapalhado a minha carreira. Acho que minha voz que causa uma certa confusão. Nós já fomos acusados de estarmos tentando aproveitar a onda de bandas com vocais femininos, uma vez que, segundo o “crítico”, eu estava substituindo “o vocalista” original do Theatre of Shadows (risos). Eu estou na banda desde o começo. A única dificuldade foi provar que somos uma banda real e não uma modelo com um grupo de músicos contratados. Nós somos uma banda em todos os sentidos da palavra. Escrevemos e gravamos juntos, convivemos juntos em uma turnê. E sinceramente não acredito que hoje alguém ainda se choca por ver uma mulher em uma banda de Metal ou se recusa a escutar alguma coisa por causa do sexo de vocalistas. O que importa é o som. Se agrada, nada mais faz diferença.
Arena Heavy: Vocês foram acusados de usar “métodos pouco ortodoxos”para se auto-promoverem...intriga da oposição? Tachados como uma banda comercial, no sentido pejorativo da palavra. Como vocês vêem isso?
Dani: Como uma grande falta do que fazer (risos). Mas não acho que fomos tachados como uma banda comercial, sinceramente não acredito nisso. Isso é coisa de um grupo de meia dúzia de músicos frustrados que passa o dia postando bobagem na internet sobre toda banda que começa a aparecer. Toda banda nova escutam os mesmos comentários: “eles têm dinheiro”, “eles têm amigos”, “vão gravar um álbum e sumir”. Como eles não conseguem realizar alguma coisa na própria vida, eles precisam encontrar uma desculpa para isso e, ao mesmo tempo, tentar estragar o trabalho dos outros. Então, quando essas pessoas entendem que nenhum dinheiro ou amigo importante compraria fãs e você passa a agradar várias pessoas, lançar discos sólidos e construir uma carreira, elas ficam com cara de idiota e a banda continua a seguir seu caminho. Os métodos que nós usamos foram os mesmos que toda banda usa ou deveria usar. Trabalhar duro, com determinação, tentando melhorar cada vez mais, usar a internet a seu favor, tratar os profissionais do meio, o público e o próprio trabalho com respeito.
Arena Heavy: Você foi vítima do Guerrilheiro da revista Comando Rock chegando até a declarar até que aceitaria uma cantada de Joan Jett.Tu é fã dela? De quem mais? E a banda?
Dani: (risos) Bem, ele me fez escolher entre ela e mais duas, então aceitaria dela! Eu acho que ela é uma artista fantástica. Gosto de muita gente, homens e mulheres. Comecei escutando cantores como Sebastian Bach, Steven Tyler, Rob Halford. Uma das minhas favoritas hoje é a Lana Lane e gosto cada vez mais da voz do vocalista do Disturbed. Todos nós da banda gostamos de muita coisa, desde Tears for Fears até Slayer. Cada membro com as suas preferências, como Raphael sendo um fã de Pantera e eu de Rammstein. E Shadowside não lembra qualquer uma dessas bandas (risos). Nós gostamos de boa música, com preferência por boa música com guitarras bem pesadas (risos).
Arena Heavy: A banda abriu para o Nightwish na tradicional casa Credicard Hall, em São Paulo. 7.000 pessoas foram à loucura e alguns (público e imprensa) consideraram a apresentação da Shadowside melhor que a atração principal. Nos fale um pouco sobre essa noite memorável.
Dani: Você não poderia ter usado uma palavra melhor para descrever a noite: memorável! Eu estava bem tranqüila, até dois minutos antes do horário de começarmos a tocar. Então, eu fiquei gelada, quase errei a introdução de teclado que eu fazia na época (risos). Mas foi um nervosismo que durou 30 segundos, não mais que isso... nós fomos recebidos por um público quente, entusiasmado, que curtiu o show o tempo todo. Eu nunca diria que concordo que fomos melhores, porque isso seria um desrespeito com o Nightwish e eles fizeram um show excelente. Para mim, isso não vem ao caso, apenas fico feliz que gostaram tanto assim do que fizemos. Nós éramos adolescentes, com muita energia, e acredito que isso contagiou as pessoas. Foi nesse dia que percebemos que tentar a sorte como músicos profissionais não era um sonho tão louco assim.
Arena Heavy: Mesmo quando independentes, o trabalho da Shadowside atingiu posição de destaque no cenário nacional e tendo impacto na Europa e Japão. Como vocês explicam esse sucesso já de início? Quais as diferenças entre a gravação do primeiro álbum para o último? De banda independente à entrada de uma gravadora.
Dani: Estrutura, experiência... isso faz toda a diferença na carreira de uma banda. Quando começamos, éramos praticamente uma banda de garagem. Até o sucesso repentino nos deu coisas pra aprender. Nós tivemos que ficar cercados de família, amigos e pessoas com mais experiência que nós. Afinal, éramos jovens demais para lidar com isso sozinhos, sem achar que o trabalho estava completo. Eles nos ajudaram a amadurecer e ver que o “disco passado” já não importa. Sempre tem alguém no mundo, da mesma idade que você, que faz o que você faz 10 vezes melhor, então se você não aprende constantemente, você é passado pra trás. Hoje nós gravamos em estúdios melhores, fizemos várias turnês internacionais e shows importantes no Brasil, mas também sabemos que temos 20 anos de carreira pela frente antes de provarmos, até para nós mesmos, que nós “conseguimos”. Eu não sei explicar o sucesso, eu até gostaria de ter a fórmula para ensinar aos outros (risos). Nós apenas tocamos a música que nós gostamos e felizmente, outras pessoas gostam também.
Arena Heavy: Vocês já tocaram com Nightwish,como já falamos,também tocaram com o Shaman, Primal Fear, Helloween, entre outros... Nos fale sobre essas experiências e com quem mais vocês gostariam de dividir o palco?
Dani: Sempre é enriquecedor dividir o palco com outros artistas, não apenas com esses que estão na estrada há mais tempo que nós, mas também com aqueles que estão começando, já que eles nos lembram de onde viemos. Nós gostamos e queremos dividir o palco com qualquer banda que seja séria, respeite os companheiros de trabalho e também os seus fãs. Como fomos escolhidos para ser a banda de abertura do Iron Maiden em Março de 2009, mas tivemos que ser cortados por causa da chuva, eu gostaria de ver isso acontecendo em uma outra oportunidade.
Arena Heavy: Dare to Dream, segundo álbum da banda nem bem chegou às lojas e se tornou um dos discos mais vendidos do Brasil. Como que isso aconteceu?
Dani: Isso me pegou de surpresa! Mas eu considero isso como um sinal do público de que estamos no caminho certo. Fizemos um disco cru, direto, com energia de ao vivo e não apenas as pessoas entenderam a proposta, mas a aprovaram também. Foi maravilhoso ficar na lista dos mais vendidos ao lado de bandas como Heaven and Hell e Iron Maiden, eu não esperava um reconhecimento tão rápido e tenho apenas que agradecer o carinho dos fãs.
Arena Heavy: O álbum Dare to Dream foi produzido por Dave Schiffman (System of a Down, Audioslave, Avenged Sevenfold e outros). Como foi trabalhar com essa lenda do mercado fonográfico?
Dani: Foi uma experiência muito interessante, especialmente com Dave, com quem tivemos mais contato. Ele não é um produtor tipicamente de Metal, apesar de conhecer bem o estilo, mas ele nos deu liberdade total para explorarmos nossa criatividade sem nos prendermos aos clichês e sem nos afastarmos do estilo. Tudo foi composto por nós. Dave apenas nos dava os caminhos. Ele praticamente nos dava enigmas e nós tínhamos que criar aquilo para chegar onde ele sentia que a música precisava chegar. Ele nos dizia que uma música precisava de movimento, então nós criávamos algo que passasse essa sensação. Foi divertido criar assim! Foi um estímulo extra. Nós experimentamos com tudo mas tornamos nossa identidade ainda mais forte. Como nós criamos tudo pessoalmente, enquanto ele apenas nos guiava, tivemos um prazer extra ao terminar o disco já que tudo foi feito 100% pela banda.
Arena Heavy: Têm lugares como a região sul aqui do pais, que a banda é pouco conhecida. A que vocês atribuem esse fato?
Dani: Sinceramente, não sei dizer quais são os locais específicos que não atingimos com toda a promoção que é feita. Nós sabemos apenas que em cidades como Curitiba e Porto Alegre, existe público da Shadowside, já que diariamente recebemos mensagens vindas dessas duas cidades. Recebemos mensagens de outras cidades também, e esses são apenas alguns exemplos. Nós estamos em todas as principais revistas, rádios, sites e zines de Heavy Metal do Brasil. Imagino que algumas pessoas vão nos conhecer através do Arena Heavy. Pessoas que não procuram os meios especializados só vão nos conhecer através de mídia mainstream para então poderem nos chamar de vendidos (risos).
Arena Heavy: O que vocês acham dos freedownloads? Vantagens e desvantagens. Falando nisso quais veículos da internet vocês usam?
Dani: Nós usamos principalmente o MySpace e todo o disco está disponível para audição lá. Nós nascemos no meio da era digital, então não tivemos o problema de adaptação que as bandas antigas tem. Hoje ninguém compra um CD sem escutar antes, então melhor que eles escutem no nosso site, onde podem ver a agenda de shows, novidades, comprar uma camiseta. Eu sou contra aqueles que tiram a música do nosso site e colocam em um blog ou qualquer outro lugar, isso é completamente desnecessário e atrapalha as bandas. Nós já estamos oferecendo a música e dessa forma eles tiram também o fã do nosso site. Quem quer ajudar precisa apenas colocar o link para o nosso MySpace ou, ao menos, colocar o nome da banda no arquivo de mp3 (risos). Já vi amigos meus baixarem música com nome de banda trocado e depois não sabiam onde encontrar o CD original do artista que eles gostaram. A vantagem de tudo isso é que a troca de arquivos nos abriu as portas do mercado internacional. Nós fizemos uma turnê pela Espanha uma semana depois do lançamento do disco. Todo o público já estava com camisetas da banda, cantando as músicas e ainda não tinha o CD Dare to Dream disponível em território espanhol, todos haviam baixado o álbum. Mesmo assim, as vendas durante esses shows foram excelentes. O fã de Heavy Metal ainda é apaixonado e mesmo que ele não consiga apoiar as bandas que gosta financeiramente, ele encontra uma forma de ajudar. O melhor exemplo disso é nosso Street Team, que ganha prêmios por promover a banda. Eu considero esse time como um dos grandes responsáveis pelo sucesso de vendas do Dare to Dream.
Arena Heavy: Para que a cena metal aqui do país evolua, o que vocês sugerem?
Dani: Nós precisamos de organizadores de shows profissionais por aqui. Como o público vai levar nossas bandas a sério, se ele precisa ver as bandas novas tocando com as condições da garagem de casa? Ou essas mesmas bandas precisam viajar muitas horas e subir no palco sem poder descansar um pouco ou ao menos tomar um banho. Os músicos no Brasil são explorados por pessoas que não sabem como organizar um evento ou simplesmente não se importam. Você conta nos dedos o número de promotores sérios, dispostos a tratar banda e público com respeito. Em Outubro do ano passado, tínhamos um show marcado com o Torture Squad que foi cancelado no dia, porque o promotor não pagou os responsáveis pelo som e luz do evento. Ele não devolveu o dinheiro do ingresso das pessoas, que variava de R$50,00 a 90 reais. Como o público vai confiar que o próximo evento da cidade realmente vai acontecer? São essas coisas que tornam nosso mercado amador e não revela para o exterior todas as bandas de qualidade que nós temos.
Arena Heavy: Como está a agenda da Shadowside? Alguma previsão de shows para o sul?
Dani: Ainda não temos algo marcado para o sul, mas existem diversas especulações. Este ano vamos ser headliners do grande festival Rock Feminino, em Rio Claro, interior do Estado de São Paulo e, em breve, vamos anunciar algumas datas pelo Brasil. As mais prováveis são no Norte e Nordeste, além de Brasília, Minas Gerais, Rio de Janeiro e esperamos que no Sul também! Devemos voltar aos Estados Unidos e Europa mais uma vez antes de voltar ao estúdio.
Arena Heavy: Quais os planos para 2010?
Dani: Tocar como loucos, compor ainda mais! Como disse anteriormente, faremos mais alguns shows aqui no Brasil e possivelmente na Europa e Estados Unidos durante o primeiro semestre. No final do ano, queremos entrar em estúdio. Já temos algum material novo escrito. Posso dizer que será ainda mais pesado e atrevido, sem perder a melodia e musicalidade.
Arena Heavy: Que mensagem vocês deixam para o público do Arena Heavy?
Dani: Eu espero que todos tenham um excelente ano, com muito Heavy Metal. Curtam nosso álbum Dare to Dream, ele foi feito de fãs de Metal para fãs de Metal, direto, cheio de melodias marcantes e com muita energia. Espero ver a todos em breve em algum show. Feliz 2010!
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