Comentei mês passado que entrevistaria alguns nomes da nova e da antiga geração de músicos do Rio Grande do Sul. No dia 11 de junho conversei com uma das bandas gaúchas mais em voga hoje em dia, devido a sua participação no programa "Superstar", veiculado na emissora de televisão de maior audiência no Brasil, na Rede Globo.
Tive o privilégio de passar algumas momentos na companhia da
Tarcísio Meira's Band, pouco tempo antes de sua apresentação no Ocidente Bar.
Rocks: Quem cria os figurinos da banda?
Matuza: Os figurinos da banda a gente cria em conjunto. Desenho para eles como imaginei nossas roupas, mostro para a banda e se eles gostam, executamos. Já os figurinos do Marnei são mais elaborados. Como ele é a figura central, o figurino dele tem um maior destaque, o restante da banda é mais estilizado, mais padrão. O Marnei é a cereja do bolo.(Risos). Todo o figurino da banda tem o enfoque dele se destacar. Pensando no "Superstar", cada música apresentada no programa tinha um figurino específico. A banda é tipo uma moldura, quero dizer, a gente se molda para o Marnei aparecer.
Rocks: Como surgiu a TMB?
Marnei: Eu tinha uma banda de hardcore. Os ensaios dessa banda estavam, literalmente, virando uma comédia. A partir disso surgiu a ideia de criar uma banda, uma banda com uma veia cômica, engraçada. Foi quando numa festa à fantasia no ano de 1993 decidimos efetivamente formar a banda.
Rocks: E a inspiração para o nome da banda?
Marnei: O nome da banda surgiu do nada. Na verdade, sou o único membro remanescente da primeira formação da TMB. Na época queríamos que o nome da banda chamasse atenção, e que o mesmo fosse engraçado. O ator global, Tarcísio Meira, era o galã na época, foi quando pensei, vamos colocar o nome de Tarcísio Meira's Band na banda. Esse nome, com certeza, irá chamar atenção, e é um nome engraçado. E foi exatamente o que ocorreu.
Rocks: Como foi o encontro da banda com o ator global?
TMB: Em 1995, a banda tinha outro vocalista, que fez uma tatuagem do ator, na verdade uma caricatura, que é o logotipo da banda no seu braço. Foi uma história meio engraçada. Ele chegou na recepção de um hotel, aqui em Porto Alegre, onde o ator estava hospedado e disse que gostaria de falar com ele. Foi dito ao vocalista tatuado, que o ator estava jantando. Nesse momento ele mostrou sua tatuagem e no mesmo instante foi solicitado que ele aguardasse. Contaram para o Tarcísio Meira da tatuagem do músico e logo o ator solicitou a presença dele. Coversaram, e o ator até lhe ofereceu uma jantinha (Risos) e marcaram um encontro no saguão do hotel, no dia seguinte, para que o ator conhecesse os demais integrantes da banda que tinha o seu nome. Na época tínhamos uma demo que na capa dizia " Observação: Assista esta fita pelado". Ele leu a observação e deu uma boa risada. E disse que ia chegar em casa e ouvir pelado. Ele foi super legal com a gente.
Rocks: O que vocês ouvem?
Matuza: Generalizando gostamos todos muito de rock pesado, metal. Metallica, Iron Maiden, Black Sabbath, Deep Purple, Judas Priest, Twisted Sisters, Ratos de Porão, Sepultura, bandas de bailão, banda bem brega de bailão. (Risos) Alguns integrantes da banda já participaram de bandas de metal tanto banda autoral como banda de cover. Podemos dizer que o Marnei entrou na banda já formada entre aspas. (Risos) A minha parceria com o Marnei já tem 10 anos, os demais integrantes, entraram para a banda faz aproximadamente há um ano, um pouco mais. O Marnei traz essa veia bem popular, veia da música popular, do brega, mas sem ser pejorativo. Que vai do Odair José, passando pelo Amado Batista e etc.
Rocks: Antes do Superstar, vocês já haviam aparecido na Rede Globo, correto? Nos falem sobre a participação no Brasil Legal?
Marnei: Sim, na década de 90, ainda com a antiga formação, participamos do programa. Mas não foi inloco, gravamos nossa participação aqui mesmo na cidade, não chegamos a ter contato com a Regina Casé. Mesmo assim, foi muito legal, até naquela época cheguei a pensar, agora a banda vai estourar. Demorou 20 anos pra isso acontecer, acreditamos que agora vai.
Rocks: Como foi a seleção para o Superstar?
TMB: Não decidimos participar do Superstar, por nossa conta. Fomos convidados pela emissora de TV, ninguém teve a ideia. A Globo que nos convidou para participar do reality, mas mesmo assim tivemos que participar de uma audição. Tocamos duas músicas ao vivo, e tinha uns jurados nos analisando. Mais bandas foram convidadas para participar dessa audição. Nos informaram que foram mais de mil bandas auditadas, ouvidas e nós passamos nessa audição. Foram selecionadas então 50 bandas. "Depois descobrimos que eles tinham um aparelho no ouvido, eles eram surdos" (Comentou Marnei) (Risos)
Rocks: E como foi a participação da banda num programa veiculado na maior rede de televisão da américa latina, uma das maiores do mundo?
Marnei: A gente nunca mais vai esquecer nossa participação no programa Superstar. Foi uma experiência que vai ficar para o resto de nossas vidas gravada. Essa formação atual temos a mais ou menos um ano. Propectamos entrar de novo para a cena underground de Porto Alegre, Matuza e eu, em um, dois anos. Resolvemos, digamos, reativar a TMB.
Matusa: Chamamos pessoas pontuais para fazer parte dessa idéia, da banda. Sabíamos que tínhamos um potencial muito grande, muito bom. E por essa razão as coisas iriam acontecer conosco. Planejamos a princípio tocar em tudo que é lugar e assim ficar com o nome da banda em evidência, pelo menos em Porto Alegre. Em um ano fizemos 12 shows, uma média de um show por mês entre Porto Alegre e região metropolitana. No segundo ano o objetivo era dar impulsão à banda. Começamos a compor a música "Cura Gay" e logo veio o clipe. O programa "Superstar" abreviou o tempo que imaginamos de trabalho para tornar a banda conhecida, mais conhecida.
Rocks: Nos fale do clipe da "Cura Gay".
TMB: De tão ruim, acho que surpreendeu. Ruim entre aspas, ficou a cara da banda. Engraçado, meio que amador, mas com um toque profissional. Investimento Zero. O clipe foi veiculado no programa do Roger na TVCOM , e ele foi um dos mais votados. Isso impulsionou bastante a banda. Depois disso a banda começou a acontecer, apareceu na Zero Hora, e culminou com nossa participação no programa "Superstar".
Rocks: A eliminação do programa, não sei se vocês concordam, mas a maioria das pessoas imaginava que a banda fosse ficar mais tempo na competição.
TMB: A saída do programa atribuímos à nossa inexperiência, ou melhor, à pouca experiência da banda. Primeiro por que a formação é nova, estamos praticamente entrando no mercado musical agora com a atual formação. E lá no programa nos deparamos com bandas muito profissionais, e mesmo assim eliminamos bandas muitos profissionais durante o processo seletivo das audições. Só para citar competimos com a banda "Tradição", que tinha o vocalista da banda do Michel Teló.
Rocks: A escolha da música na terceira audição, teve relação com a eliminação da banda com tão pouca aprovação do público, para ser exata 28% de aprovação?
TMB: Certamente. A música não bateu como gostaríamos que batesse. A música teve que ser cortada, reduzida. Originalmente a música que apresentamos "Andando pelado eu e o Cavalo" tem quatro minutos de duração e o formato do programa exigia que ela tivesse somente dois minutos de duração, o que acabou a deixando ela repetitiva, cansativa. Fora isso lá, queremos dizer fora aqui do estado o público não tem essa intimidade que nós gaúchos temos com cavalo, com esse tipo de temática. Então o público acabou não entendendo a música, a piada encima do tema "Cavalo". É um tema de gaúcho, uma temática do sul, muito regional.
Rocks: E após a saída do programa, qual é o feedback da participação da TMB no programa?
TMB: Um fato legal que aconteceu no dia posterior à nossa saída do programa, foi que o número de visualizações do vídeo da música do Cavalo no nosso canal do Youtube pulou das 3 mil visualizações que tinha para mais de 30 mil visualizações. Esse fato nos alegrou muito, demonstra que o público procurou conhecer a música, o pessoal ficou curioso. Só vemos pontos positivos na participação no programa. Para vocês terem ideia na nossa primeira aparição no programa, fomos uma das poucas bandas que apresentou música autoral e apresentamos um tema polêmico, a cura gay. Nesse dia fomos a banda que obteve maior percentual de aprovação, 85% de aprovação. Hoje podemos dizer que a banda tem um reconhecimento nacional, estamos prospectando shows no Brasil inteiro. Linkando novamente na nossa eliminação, acreditamos que no dia que saimos, as pessoas esperavam que a gente apresentasse novamente um tema polêmico, que dessemos continuidade ao tipo de temática de música que apresentamos no primeiro dia e isso não aconteceu.
Rocks: Falando da "Cura gay" a que vocês atribuem o sucesso que a música fez em comparação com a música que vocês apresentaram na terceira apresentação?
TMB: "Cura Gay" é uma música nova, é da nova fase da banda, dessa formação atual. A música do cavalo foi criada bem antes, na época da da formação anterior. Ela não funcionou tão bem como a primeira, com certeza não bateu igual. Fora isso tivemos problemas técnicos, problemas na execução das músicas, coisas que acontecem numa apresentação ao vivo. Resumindo, demos azar. Um azar relativo. (Risos) Estamos prospectando shows no Brasil inteiro, como já citamos; temos diversos convites, estamos em negociação. Acreditamos que em meados de setembro, outubro estaremos com shows fechados em todo Brasil. Temos atualmente um empresário forte, agência em São Paulo, estamos muito felizes com tudo isso que está acontecendo com a banda.
Rocks: E a comparação com os "Mamonas Assassinas"?
TMB: É uma comparação que nos agrada, achamos uma honra sermos comparados aos "Mamonas Assassinas". Os Mamonas são uma banda que até hoje, mais de 20 anos após a morte dos seus integrantes, as pessoas tem um carinho especial por eles, a nação inteira.
Marnei: Falando especificamente no meu caso. No começo da banda, odiava essa comparação. A gente surgiu antes deles, batia no peito e falava. O que eles fazem a gente, já fazia antes. Depois de um tempo mudei de opinião, penso bem diferente hoje em dia. Os "Mamonas" foram uma coisa boa, foram e são sucesso até hoje, por que não ser comparado a eles? É ótimo isso, só tem a acrescentar, é uma honra.
Matuza: O teu blog é mais ligado ao metal, ao hard rock mais pesado, então fazendo uma alusão ao "Iron Maiden" e "Helloween", logo quando os alemães surgiram. O "Iron Maiden" era bem mais antigo, uma banda maior , e no início as pessoas as comparavam. Mas o "Helloween" é tão bom quanto o Iron, não era igual como no início alguns falavam. Comparações assim são inevitáveis. No nosso caso entendemos que as pessoas nos comparam aos Mamonas pois são a referência que elas possuem. Somos parecidos com eles em relação à irreverência; na questão musical somos bem diferente; nós somos mais rock e os "Mamonas" são uma mescla de vários gêneros musical como pagode, rock, pop, fado etc.
Rocks: A proposta musical da banda é?
TMB: Vamos falar assim. A gente compila tudo que ouve. Metal, rock pesado, brega, rock gaúcho, música de bailão, música tradicional gaúcha, música de bandinha alemã. O som da banda é uma compilação de tudo que nós, integrantes da banda ouvimos, de tudo que absorvemos tanto aqui no estado, como no Brasil em geral.
Rocks: Preconceito ao estilo de vocês, já sentiram?
TMB: Tem gente que nos ouve e gosta, se identifica com a gente. Que acha nossa proposta, nosso som diferente. Tem gente que nos conhece e nos ama, já outros nos conhecem e nos odeiam, mas são uma minoria. As pessoas que vem de coração aberto, que tem o coração aberto geralmente gostam da banda. Entendem a nossa proposta. Uma minoria não gosta, é o que sentimos. As pessoas reagem positivamente pois reconhecem o cuidado que temos com o som que produzimos, reconhecem que o instrumental tem qualidade, que as músicas são pensadas, simples mas pensadas, bem feitas.
Rocks: Os fãs da banda, quem são?
TMB: O público que curte a banda é bem abrangente. Vai desde crianças, passando por adolescentes, pessoas adultas, idosos. Recebemos relatos na internet muito legais. Temos um caso bem recente de um pai que levou a filha de 7 anos para nos conhecer. A menina chorou quando da eliminação da banda no Superstar. Isso é muito gratificante para nós. A gente tenta passar coisas boas para as pessoas, uma energia boa e elas sentem assim, esse é um bom exemplo disso. Tentamos dar alegria para as pessoas, divertir as pessoas.
Rocks: Recentemente vocês divulgaram uma prévia do clipe da música "Dominó"
TMB: O clipe da "Dominó" vai ter uma participação especial, vai valer a pena esperar um pouco para ver ele no ar. Tipo participação do "Alexandre Frota"...(Risos) Aguardem!!
Rocks: E o registro oficial, o CD será lançado quando?
TMB: Estamos trabalhando bastante, o CD vai ser composto de músicas inéditas. Estamos pensando nas músicas para o nosso primeiro CD com muito cuidado. Temos um CD promocional, na verdade temos várias demos . O CD oficial a gente promete fazer ainda no decorrer desse ano, já estamos em composição. Aguardem!
Rocks: Cada integrante tem a sua profissão paralelo ao trabalho com a banda. O Marnei é taxista, Ricardo, servidor público, Luis Orlando, empresário, Fábio, advogado, e o Matuza, arquiteto. A banda é digamos um projeto a ser levado paralelamente à profissão de cada um?
Marnei: Eu tenho agora a esperança de poder largar a minha profissão de taxista e viver do que mais gosto, ou seja, da música. Na verdade todos nós temos a esperança de que isso aconteça. De viver das condições que a banda nos dá. Temos que aproveitar esse momento, é a nossa maior chance de que isso vire algo palpável.
Matuza: Estou 100 % voltado atualmente para a banda. Se soubermos aproveitar esse momento, com certeza iremos colher os frutos mais à frente. Estou empresariando a banda em tempo integral. A marca da cerveja, as camisas e etc...Estamos voltados para que a banda consiga se autogerir, essa é a finalidade de tudo que estamos planejando, de tudo que estamos fazendo agora. Todos estamos voltados para isso.
Rocks: Agenda da banda?
TMB: Temos show em Ijuí no dia 21/06, aqui em Porto Alegre no Opinião no dia 27/06 na Festa Mulher não paga, dia 01/07 no FIFA FAN Fest também aqui na cidade e no dia 05/07 em São Leopoldo. Fora isso temos vários convites, como já falamos, em várias cidades fora do estado, em todo o Brasil em fechamento.
Rocks: Conselho, dica para os jovens que estão começando no meio musical, muitos dos nossos leitores tem bandas, ou tem idéia de formar uma banda.
TMB: Aprendam a tocar música dos outros, o cover te dá uma base artística muito boa, base artítica e compositiva. Toquem o que gostem, não tenham preconceitos. Criem coisas novas também. Toquem com amigos, tenham amizades na banda que vocês tocam.
Rocks: Deixem um convite para os leitores.
TMB: Venham para os nossos shows. Venham assistir nosso bailão rock, nosso som é diversificado, tocamos de tudo mas possuímos uma identidade rock, uma roupagem rock n' roll.. Nosso show é irreverente. Nele vocês podem de repente assistir desde uma guerra de Cacetinhos (Risos), rola bastante palhaçada nos nossos shows. Nele vocês podem ver um cavalo no palco também, um cachorro...(Risos) Tentamos produzir nossos shows ao máximo. Nossos shows não tem definição de faixa etária, claro que maneiramos no uso de palavrões quando vemos a presença de público infantil nos mesmos, questão de coerência. Nossos shows se adequam tanto ao festival do carnaval da Bahia como ao Rock in Rio ( Risos)
Rocks: Muito obrigada pela atenção, pelo tempo de vocês, enfim por esse bate-papo pra lá de agradável, engraçado...
Fotos: Sônia Butelli
Glossário:
Cacetinho - Termo usado no Rio Grande do Sul para o tradicional pão francês, de pequeno tamanho conhecido no restante do país.
Ocidente Bar - Casa tradicional da noite porto-alegrense.
Programa do Roger - Programa muito conhecido no RS sob o comando do jornalista Roger Lerina, veiculado numa emissora regional, vinculada à RBS
TVCOM - Canal regional de propriedade da RBS.
Zero Hora - O jornal de maior circulação na Região Sul do País.
Leia matéria no Whiplash.Net