Escrito por Flávio Seixlack/ Do G1, em São Paulo
'Eumir Deodato não queimaria 50 anos de trabalho', diz vocalista Rafael.
'Eumir Deodato não queimaria 50 anos de trabalho', diz vocalista Rafael.
Elza Soares participa de mistura de rock e metal com bossa nova e samba
Não é novidade que a música brasileira é uma mistura de vários ritmos e que dificilmente os artistas que estão por aí hoje em dia façam um som totalmente puro em termos estéticos e sonoros. Também já existiu na história recente misturas mais escancaradas, como é o caso de nomes como Raimundos, Nação Zumbi e Rappa. Mas, de acordo com o vocalista Rafael Moromizato, é a primeira vez que o rock pesado, com inspirações no metal, se encontra com o samba e a bossa nova, especialmente com os resultados alcançados pelo Huaska, no que a própria banda chama de "bossa metal .
Na ativa há 10 anos, o quinteto de São Paulo se prepara para lançar no mês de fevereiro o terceiro disco de sua carreira, "Samba de preto", que conta com a participação de duas figuras de grande importância dentro da música brasileira: a cantora Elza Soares e o músico Eumir Deodato, que "abraçou o projeto" e produziu três faixas do disco. O clipe de "Ainda não acabou", uma das canções com a colaboração do arranjador, pode ser visto na página oficial da banda no YouTube.
"O disco é a mistura definitiva de rock com samba, bossa nova e chorinho, para que as pessoas entendam que a banda é isso", disse o vocalista Rafael Moromizato em entrevista por telefone ao G1. No papo, o músico contou sobre os primeiros passos do Huaska e deu detalhes sobre a gravação do novo álbum com as participações de Eumir Deodato e Elza Soares.
G1 – De onde surgiu essa idéia de misturar rock e metal com samba e bossa nova?
Rafael Moromizato – A gente começou com isso em 2002 quando montamos a banda. Queríamos fazer rock pesado em português, algo que não é muito comum. No começo, o violonista mostrou uma música pra mim com essa mistura e a gente pensou: “isso pode dar certo”. Foi nosso primeiro experimento. De lá pra cá, a gente foi colocando cada vez mais coisas brasileiras no rock. Até que nesse CD a gente pensou: “então esse disco vai ser essa mistura definitiva de rock com samba, bossa nova e chorinho, para que as pessoas entendam que a banda é isso”. Foi quando a gente teve a idéia de chamar pra participar duas pessoas da música brasileira que têm respaldo, com uma história.
Rafael Moromizato – A gente começou com isso em 2002 quando montamos a banda. Queríamos fazer rock pesado em português, algo que não é muito comum. No começo, o violonista mostrou uma música pra mim com essa mistura e a gente pensou: “isso pode dar certo”. Foi nosso primeiro experimento. De lá pra cá, a gente foi colocando cada vez mais coisas brasileiras no rock. Até que nesse CD a gente pensou: “então esse disco vai ser essa mistura definitiva de rock com samba, bossa nova e chorinho, para que as pessoas entendam que a banda é isso”. Foi quando a gente teve a idéia de chamar pra participar duas pessoas da música brasileira que têm respaldo, com uma história.
G1 – Já é o terceiro disco de vocês. Como avaliam essa trajetória até agora?
Rafael – Somos uma banda independente desde o começo. Foi ralação, sabe? A gente sempre acreditou e batalhou bastante por isso. Sempre achamos que mais cedo ou mais tarde ia dar certo. Observando outras misturas que já foram feitas na música brasileira - como o Rappa, Nação Zumbi, o Raimundos -, achávamos que faltava uma banda que misturasse esses dois estilos, então fomos em frente.
Rafael – Somos uma banda independente desde o começo. Foi ralação, sabe? A gente sempre acreditou e batalhou bastante por isso. Sempre achamos que mais cedo ou mais tarde ia dar certo. Observando outras misturas que já foram feitas na música brasileira - como o Rappa, Nação Zumbi, o Raimundos -, achávamos que faltava uma banda que misturasse esses dois estilos, então fomos em frente.
G1 – Acredita que é a primeira vez que rola esse tipo de projeto?
Rafael – Acho que sim. A mistura de samba com rock não é novidade. Acho que a novidade é como isso está sendo feito. Um rock um pouco mais pesado, com uma pegada rock, não só com uma guitarra ou uma bateria que lembram o gênero. Uma coisa mais energética, com uma dinâmica que caia pra bossa nova e pro samba sem abandonar a linha da música ou soar estranho.
Rafael – Acho que sim. A mistura de samba com rock não é novidade. Acho que a novidade é como isso está sendo feito. Um rock um pouco mais pesado, com uma pegada rock, não só com uma guitarra ou uma bateria que lembram o gênero. Uma coisa mais energética, com uma dinâmica que caia pra bossa nova e pro samba sem abandonar a linha da música ou soar estranho.
G1 – Dá pra dizer que o som de vocês é algo como um nu-metal brasileiro, já que o nu-metal americano misturava rock e metal com a música popular deles, que é o rap, e vocês misturam com a nossa música popular, que é o samba e bossa nova?
Rafael – Exatamente. É difícil definir o que é, bastante gente chamava de nu-metal talvez por não saber como caracterizar nosso som. Afinal, não é punk, nem hardcore ou classic rock. Chamamos de bossa metal por ser o que mais resume o estilo da banda.
Rafael – Exatamente. É difícil definir o que é, bastante gente chamava de nu-metal talvez por não saber como caracterizar nosso som. Afinal, não é punk, nem hardcore ou classic rock. Chamamos de bossa metal por ser o que mais resume o estilo da banda.
G1 – Muita gente torce o nariz, como fãs ortodoxos de rock e metal? O que vocês costumam ouvir de comentários nesse sentido?
Rafael – Menos do que a gente imaginava. Principalmente agora, que a gente tem colocado bastante percussão, achávamos que os fãs de metal ficariam com um pé atrás, mas vejo pela internet e pelas pessoas nos shows, gente que é do rock e vem falar que não gosta de samba ou bossa nova, mas que curte ouvir a gente. Tem o outro lado também, gente vem falar que não gosta de rock, mas que aprecia o nosso som. Essa foi uma das grandes surpresas.
Rafael – Menos do que a gente imaginava. Principalmente agora, que a gente tem colocado bastante percussão, achávamos que os fãs de metal ficariam com um pé atrás, mas vejo pela internet e pelas pessoas nos shows, gente que é do rock e vem falar que não gosta de samba ou bossa nova, mas que curte ouvir a gente. Tem o outro lado também, gente vem falar que não gosta de rock, mas que aprecia o nosso som. Essa foi uma das grandes surpresas.
G1 – Qual é a maior dificuldade de fazer um som assim? Vocês se preocupam em nunca deixar o som caricato?
Rafael – A dificuldade é exatamente essa, fazer algo sincero. Foram três preocupações. A primeira foi a música em si. Tudo ali faz sentido, não é só uma mudança de nota quando vai do rock pro samba, tem uma conexão natural. Outra coisa são as letras. Apesar da letra não fazer parte do rock internacional, aqui ela é importante, gente como Los Hermanos, Legião Urbana e Cazuza tem letras boas. A terceira preocupação foi com as participações. Pensamos no Eumir [Deodato] e na Elza [Soares], duas pessoas já consagradas. Quando estamos ao lado de um cara que trabalhou com o Tom Jobim e que diz que seu som está funcionando, é quase como um selo de qualidade. Com a Elza, pensamos o seguinte: “não somos sambistas. Fazemos uma menção respeitando o samba”. Então fomos atrás de alguém que as pessoas fossem respeitar. Desde o primeiro contato com a Elza ela gostou e quis participar.
Rafael – A dificuldade é exatamente essa, fazer algo sincero. Foram três preocupações. A primeira foi a música em si. Tudo ali faz sentido, não é só uma mudança de nota quando vai do rock pro samba, tem uma conexão natural. Outra coisa são as letras. Apesar da letra não fazer parte do rock internacional, aqui ela é importante, gente como Los Hermanos, Legião Urbana e Cazuza tem letras boas. A terceira preocupação foi com as participações. Pensamos no Eumir [Deodato] e na Elza [Soares], duas pessoas já consagradas. Quando estamos ao lado de um cara que trabalhou com o Tom Jobim e que diz que seu som está funcionando, é quase como um selo de qualidade. Com a Elza, pensamos o seguinte: “não somos sambistas. Fazemos uma menção respeitando o samba”. Então fomos atrás de alguém que as pessoas fossem respeitar. Desde o primeiro contato com a Elza ela gostou e quis participar.
G1 – Para o tipo de som que vocês fazem, a produção é muito importante. Como foi essa parte durante a gravação do “Samba de preto”?
Rafael – Nosso produtor é de Criciúma. Ao mesmo tempo em que a gente queria um som mais comercial – mas fazendo algo como o CD preto do Metallica ou o “Nevermind” do Nirvana, trabalhos específicos que foram pra mídia –, a preocupação nesse CD era a de que as pessoas entendessem tudo, não apenas notassem a mistura e pronto. Tem que tocar no rádio e tem que ter refrão bom. O produtor entrou em contato com a gente, mostrou as coisas que ele já tinha produzido e disse que queria trabalhar com a gente. A gente viu produtores grandes, gente que já trabalhou com bandas do mainstream, só que a gente queria fugir disso, não queríamos relacionar nada com nada. A gravação aconteceu durante um mês, já tínhamos trabalhado nas músicas durante 10 meses. A produção foi pensada não só no sentido de respeitar o samba e a bossa nova, mas também visando o mercado lá fora. O Deodato é mais famoso lá do que aqui. A gente sabe que os mercados europeu e japonês gostam de música brasileira e gostam de rock, então a gente teve essa preocupação de soar perfeito tanto pro brasileiro quanto pro gringo.
Rafael – Nosso produtor é de Criciúma. Ao mesmo tempo em que a gente queria um som mais comercial – mas fazendo algo como o CD preto do Metallica ou o “Nevermind” do Nirvana, trabalhos específicos que foram pra mídia –, a preocupação nesse CD era a de que as pessoas entendessem tudo, não apenas notassem a mistura e pronto. Tem que tocar no rádio e tem que ter refrão bom. O produtor entrou em contato com a gente, mostrou as coisas que ele já tinha produzido e disse que queria trabalhar com a gente. A gente viu produtores grandes, gente que já trabalhou com bandas do mainstream, só que a gente queria fugir disso, não queríamos relacionar nada com nada. A gravação aconteceu durante um mês, já tínhamos trabalhado nas músicas durante 10 meses. A produção foi pensada não só no sentido de respeitar o samba e a bossa nova, mas também visando o mercado lá fora. O Deodato é mais famoso lá do que aqui. A gente sabe que os mercados europeu e japonês gostam de música brasileira e gostam de rock, então a gente teve essa preocupação de soar perfeito tanto pro brasileiro quanto pro gringo.
G1 – Como foi gravar as cordas e os metais?
Rafael – Foi através do Eumir, ele que arranjou. A gente pediu um arranjo, e ele falou que tinha uma idéia de cordas e metal. Ele trabalhou em três músicas do CD com a gente. Uma é “Ainda não acabou”, o single. A outra é “Um mar”, que é só basicamente violão, voz e cordas - uma faixa mais conceitual, pois queríamos uma coisa mais artística no meio do disco. “Chega de saudade”, um marco da bossa nova, é a outra. Falamos que a banda estava pensando em gravar essa e ele ficou um pouco receoso, mas depois topou.
Rafael – Foi através do Eumir, ele que arranjou. A gente pediu um arranjo, e ele falou que tinha uma idéia de cordas e metal. Ele trabalhou em três músicas do CD com a gente. Uma é “Ainda não acabou”, o single. A outra é “Um mar”, que é só basicamente violão, voz e cordas - uma faixa mais conceitual, pois queríamos uma coisa mais artística no meio do disco. “Chega de saudade”, um marco da bossa nova, é a outra. Falamos que a banda estava pensando em gravar essa e ele ficou um pouco receoso, mas depois topou.
G1 – Como rolou a participação do Eumir Deodato? Vocês ligaram e ele topou logo de cara?
Rafael – Conheci ele através de um amigo do meu pai, que é produtor do João Donato e do João Bosco. Quando fui conversar com ele para ajudar no disco, ele me passou o contato do Eumir. Entrei em contato e ele já falou que achou demais e disse que queria trabalhar com a gente. O mais legal é que ele abraçou o projeto. Não foi só um arranjador que a gente contratou e teve um trabalho frio no estúdio. Ele não assinaria algo que fosse queimar 50 anos de trabalho. Falamos com ele no final de 2010 e foi desenrolando até ele vir gravar com a gente em novembro. Com a Elza a gente já estava pensando nas participações, aí eu entrei em contato com o empresário dela. Foi uma surpresa boa. No começo era algo tão distante e virou realidade. Mas é aquela história: nosso trabalho tem 10 anos, não começamos ontem. Então o negócio foi amadurecendo tanto que agradou quando chegou no ouvido dessas pessoas. Eles também ficam felizes em trabalhar com uma coisa nova, querendo ou não dá uma reciclada neles. Elza ficou muito feliz, pediu pra incluir a música no repertório dela e falou que vai participar do show de lançamento do disco.
Rafael – Conheci ele através de um amigo do meu pai, que é produtor do João Donato e do João Bosco. Quando fui conversar com ele para ajudar no disco, ele me passou o contato do Eumir. Entrei em contato e ele já falou que achou demais e disse que queria trabalhar com a gente. O mais legal é que ele abraçou o projeto. Não foi só um arranjador que a gente contratou e teve um trabalho frio no estúdio. Ele não assinaria algo que fosse queimar 50 anos de trabalho. Falamos com ele no final de 2010 e foi desenrolando até ele vir gravar com a gente em novembro. Com a Elza a gente já estava pensando nas participações, aí eu entrei em contato com o empresário dela. Foi uma surpresa boa. No começo era algo tão distante e virou realidade. Mas é aquela história: nosso trabalho tem 10 anos, não começamos ontem. Então o negócio foi amadurecendo tanto que agradou quando chegou no ouvido dessas pessoas. Eles também ficam felizes em trabalhar com uma coisa nova, querendo ou não dá uma reciclada neles. Elza ficou muito feliz, pediu pra incluir a música no repertório dela e falou que vai participar do show de lançamento do disco.
G1 – Ao vivo como funciona? Deve ser difícil pra arrumar esse som no palco.
Rafael – O violão tem que aparecer no meio do rock. É estranho porque sempre falamos pra deixar o violão muito alto nos shows. No nosso caso é voz e violão na cara, a banda é secundária. O que tem que aparecer primeiro é essa coisa da batida.
Rafael – O violão tem que aparecer no meio do rock. É estranho porque sempre falamos pra deixar o violão muito alto nos shows. No nosso caso é voz e violão na cara, a banda é secundária. O que tem que aparecer primeiro é essa coisa da batida.
G1 – O disco vai sair em fevereiro. Depois vocês vão sair em turnê?
Rafael – Sim. A música já está à venda digitalmente. A gente vai começar a fazer show de lançamento a partir de março, agora vamos trabalhar mais o single. O show de lançamento com participação da Elza deve acontecer no Rio.
Rafael – Sim. A música já está à venda digitalmente. A gente vai começar a fazer show de lançamento a partir de março, agora vamos trabalhar mais o single. O show de lançamento com participação da Elza deve acontecer no Rio.