Quando cheguei no Gigantinho, perto das 17h, a fila da Budzone devia ter aproximadamente umas cinquenta pessoas. À medida que o tempo passava, fui vendo as filas aumentarem, a noite cair, e a ansiedade bater no peito cada vez mais forte. Tinha alguns amigos perdidos em outros setores, e estava economizando a bateria do celular para mais tarde poder me comunicar com eles. Porém decidi acompanhar o evento do show no Facebook e lá a galera já está enlouquecida... Uns diziam que a banda estava passando som no ginásio, outros diziam que a banda havia retornado ao hotel. Alguns queriam sair do show e ir para o hotel onde a banda estava hospedada e tentar uma foto ou autógrafo - eu estava nesse grupo. No grupo, acabei me comunicando com uma menina e ficamos de nos encontrar, já que estava sozinha na fila.
Não sou o tipo de pessoa super sociável que chega fazendo e acontecendo. Fiquei de boa, apenas observando. Vi casais jovens e não tão jovens, homos e heteros, famílias, amigos, crianças, aguardando o show, assim como eu. Pensei: Queen é mágico mesmo. Depois que sai desse estado nostalgico, lembrei que tinha fome, sede e uma bexiga. Pensei, no mesmo instante, que pelo meu bem e para fazer valer a noite, era melhor tentar esquecer de tudo isso por umas horas. Os portões do Gigantinho foram abertos com uma hora de atraso, às 19h. Entrei. Colei na grade no lado esquerdo do palco, onde o Brian May, normalmente, fica.
Descobri, já dentro do Gigantinho, a confusão toda sobre o possível cancelamento do show. Como fiquei o dia todo trabalhando, sem televisão ou rádio, não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo. Ainda bem, pois já estava o suficientemente nervosa, só com meus pensamentos.
Já instalada e um pouco mais à vontade, conheci uma menina do Mato Grosso do Sul e duas amigas dela daqui de Porto Alegre. Decidimos pegar nosso Welcome Drink. Eu trouxa como boa iniciante, debutante em shows, peguei um refrigerante, que não veio com aquele copo personalizado da Budweiser. Fiquei "sustenido chateada", mas depois pensei que ia ter que carregar o copo. Então, melhor dar um jeito de catar um copo no fim do show.
O palco era absurdamente grande, o que fez o Gigantinho ter um ar de "inho" mesmo. E, com uma extensão de passarela que vai até quase a arquibancada, praticamente toda platéia podia ter um momento com a banda. Confesso que não achei o local mais adequado para o evento. É de domínio público que Porto Alegre não possui uma casa de shows com uma estrutura adequada; mas temos dois estádios novinhos que seriam um palco de repente mais grandioso, mais apropriado para estrelas de quinta grandeza como o Queen e para seu público.
Havia uma grande cortina com o logo da banda, desenhado por Freddie Mercury, com luzes roxas ao fundo. À medida que o tempo de espera foi se esgotando, as luzes foram ficando mais baixas e o roxo mais intenso. Vi as guitarras e violões de Brian serem destapados, polidos. Vi o pessoal da iluminação pendurado, focando as luzes. O gelo seco começou a deixar o ambiente ainda mais misterioso. Eis que a guitarra de Brian começou a gemer...
O show começou pouco depois das 21h, como uma explosão. Lembro de ter parado de respirar quando vi, Brian May, Roger Taylor e Adam Lambert tão próximos de mim. Adam assumiu a frente como um Freddie pós-moderno, mas diferente. Amar tanto Freddie nos faz muito críticos, mas amar tanto o Queen nos faz querer que eles continuem a perpetuar sua música e sua mensagem por muitas e muitasgerações. Adam não é Freddie. E ele não quer sê-lo. Ele é consciente e humilde em relação ao seu papel. Adam é um exímio intérprete da obra do Queen. É um tributo do Queen ao próprio Queen, é um tributo do Queen ao Freddie Mercury.
Adam é carismático, performático, impressionantemente bonito e um talentosíssimo cantor. É o suficiente pra dizer que ele me conquistou? Mas confessso novamente que para mim Freddie é único. Sabe por quê? A voz dele é inconfundível na força, no tom e no sentimento. Escuto Freddie de olhos fechados, desejando ter a força que ele teve pra enfrentar tudo que enfrentou na vida. Um dueto de Freddie e Adam teria um ingresso com valor milionário, pensei.
Porém, não só de Freddie e não só de Adam é feito o QUEEN. A banda tem o melhor guitarrista e o melhor baterista de rock na minha opinião. Brian May e seu cabelo...Acho que ele é tipo Sansão. (Risos) Penso com os meus botões- é do cabelo dele que vem a força daqueles acordes hipnóticos. Brian consegue ter a ternura de levar um auditório inteiro ao choro e a energia de determinar o que significa a palavra rock. Ele é aplicado, meio parecido comigo. De todos da banda, é com ele que mais me identifico. Já o Roger Taylor, eu tinha nele a imagem do cara que ficava no fundão. E, mesmo mais na dele, quando ele abriu a boca para cantar "These are the days of our lives", arrancou de mim um choro compulsivo. E, ao ouvir seu solo juntamente com seu filho, Rufus, entendi que talento muitas vezes é a nível de DNA. Rufus arrancou um dos poucos sorrisos que seu pai deu durante o show. Roger, agora com toda aquela barba branca é tão fofo que chega a dar vontade de abraçar. Mas a cordialidade britânica me impediu, assim como os seguranças. O valorizei mais quando tive a chance de vê-lo. Tanto ele quanto Brian May são precursores de um rock ora melódico, ora pesado. Que passa um recado de sensibilidade com batidas muito características. Basta ouvirmos os primeiros acordes para identificarmos "We Will Rock You" ou "Crazy Little Thing Called Love" por exemplo. O trabalho deles é épico e eterno. O Queen com seus quatro integrantes da formação inicial, Mercury, May, Taylor e Deacon possuem quatro diferentes personalidades, quatro diferentes formas de trabalho, quatro diferentes deuses e sua música que cria uma magia inebriante.
Queen é minha banda predileta por todos os predicados já citados, mas além disso. Amo a sua música em si. São poesias de vida que em determinados momentos, quando escuto, consigo unir forças, relaxar, ficar contente e energizada. Todo esse amor é culpa da minha mãe, fã da banda com muitos LPs e compactos. No dia do LP na minha escola, quando pequena, meus amigos levavam a Xuxa e eu levava "A Kind of Magic"(sim, eu sofri muito bulliyng, mas isso era normal e ninguém morria). Acho que escuto Queen antes de caminhar, mas a banda ficou forte dentro de mim a partir dos meus 7 anos de idade, quando fazia patinação artística. De lá pra cá esse amor só fez aumentar.
Depois de uma performance impecável, com direito a Freddie Mercury no telão mais de uma vez, uma selfie gigante e um coro gigantesco em "Love of My Life," além de Adam descendo do palco e solos incríveis de Brian, Roger, Rufus e Neil. Não senti que passaram-se duas mágicas horas. Um show mais longo que o show realizado no Rock in Rio e com algumas diferenças de repertório. A maioria das músicas do Queen são conhecidas, por isso é muito difícil montar um repertório perfeito. Senti falta de "The Show Must Go On" e de "Save Me". Contudo, até nisso a banda é diferente, em cada lugar que se apresentam eles dão uma variada no repertório.
Em relação ao show, todos os presentes, ficaram extasiados. As pessoas que tinham alguma dúvida em relação ao posto de Adam na banda, acabaram cantando junto com ele. Gritando o seu nome e lhe fazendo reverência com a coroa de "príncipe"na cabeça. Eu pagaria novamente o mesmo valor que paguei pelo show, mas não pelo lugar e pela estrutura. Ao meu ver a Budzone poderia ser melhor servida e um pouco mais confortável. Mas, mesmo assim, eu faria tudo de novo. Aliás, espero que tenha um novo show da banda aqui em Porto Alegre daqui a um tempo. Vou estar mais preparada.
Cheguei em casa, quebrada, torta, desidratada, sem voz, com fome e com a bexiga encostando na garganta. Em contrapartida eu também estava contente, realizada, rindo sozinha, meu coração batia nas orelhas, as melodias ecoavam na cabeça e ao fechar os olhos ainda me arrepiava com as imagens que me vinham à mente.
As emoções não acabaram. Lembram da menina que eu estava falando pelo facebook? Pois é, não conseguimos nos encontrar. Então, combinamos de ir ao Hotel Sheraton às 8h da manhã do dia seguinte. E fomos. Ficamos em pé, naquele esquema de fã: de vigília e de prontidão. As movimentações começaram próximo ao meio-dia. Éramos quatro pessoas às 8h da manhã. Ao meio-dia já éramos umas vinte pessoas. O pessoal da produção saiu, e colocaram o cordão de isolamento. O divo, Adam, passou abanou com mochilas e bolsas e se foi. Não deu tempo de foto, autógrafo. Ele é realmente lindo.
Nós continuamos esperando...Já eramos umas trinta pessoas, quando mais um cordão de isolamento foi feito. Chegamos a achar que Brian e Roger tivessem saído pela garagem, mas não. Perto das 14h aparece Brian May, abrindo os braços nos saudando. Me atrapalhei toda. Não sabia se entregava bloquinho para receber um autógrafo, se falava com ele ou se batia uma foto. Foi quando do nada se materializa na minha frente Roger Taylor. Me atraquei numa selfie tremida de tanta emoção que senti. Consegui filmar o Brian May. Quando fui bater uma foto fui alvejada por canetas, capas de disco, câmeras e fui empurrada. Mas eu estava ali na linha bem na frente dos meus ídolos. Filmei o Brian na cara do gol. (Risos) Peguei autógrafo dos dois. Quase infartei. Quase tive uma síncope. Tá, brincadeira. Mas depois que eles foram embora, tive uma tremedeira difícil de controlar.
Foi indescritível. Uma das melhores sensações da minha vida. Um dia que eu acreditei que jamais iria acontecer.
E olhem a Marina, no vídeo a seguir. É a primeira a comentar o show no vídeo da ZH digital: