quinta-feira, 10 de julho de 2014

Leviaethan: bate-papo com Flávio Soares

Continuando a série de entrevistas com músicos gaúchos da velha e da nova geração, tive o prazer de entrevistar uma lenda do metal brasileiro, Flávio Soares, vocalista e baixista do Leviaethan.


Rocks: Quando você descobriu que queria ser músico?

Flávio Soares: Começou há muito tempo atrás...(Risos) Sou porto-alegrense mas vivia no interior do estado. Retornei para a capital um pouco antes de completar 12 anos de idade. Não conhecia ninguém. Tenho uma irmã mais velha quase cinco anos, que na época tinha 17 anos, e estava de cabeça nas coisas do rock. Comprava revistas, escutava a Rádio Continental, começava a querer ir a shows. Meu pai não deixava ela ir sozinha, então eu com 12/13 anos comecei a acompanhar ela. E foi assim que comecei a entrar nesse mundo. A gente pegava nossas mesadas e gastava em discos, revistas sobre rock e metal. A principal revista que tinha na época era a Pop.


Rocks: E a primeira banda como surgiu? 

Flávio Soares: Eu já tocava baixo, nos reuníamos na casa de um, na casa de outro amigo pra fazer um som. Quando eu estava no segundo grau e estudava no Colégio Champagnat, formamos uma banda para participar de um festival. Era uma banda de música autoral, se chamava Néctar, e ela foi o embrião de como comecei a tocar.  Nessa banda tinha um guitarrista que veio a ser do Valhala, banda que também gravou o "Rock Garagem" como o Leviaethan. Fazíamos shows em escolas, mas a banda não durou muito tempo.


Rocks: E o Leviaethan como surgiu?

Flávio Soares: A galera na época se reunia na Megaforce e lá conheci um cara que me apresentou para outro cara que queria montar uma banda. Ele procurava um baixista e esse cara que queria formar a banda se tornou o baterista da primeira formação do Leviaethan. Esses dois caras tinham o projeto de criar uma banda que viria a ser o Astaroth, mas eles se desentenderam com o Urso. Ou seja a primeira formação do Leviaethan surgiu do fato do Astaroth não ter saido com a formação digamos inicial. Ambas as bandas são contemporâneas,  partiram de um mesma idéia, embrião. Durante muito tempo tocávamos juntos, fazíamos shows juntos, do "Rock Garagem" as três bandas. Na verdade Leviaethan, Astaroth e Valhala eram as bandas mais heavy metal do "Rock Garagem"... O Leviaethan um pouco mais extremo, o Valhala mais rock 'n' roll e o Astaroth mais heavy metal tradicional. Viajávamos juntos, fazíamos festivais pelo interior.




Rocks: Por que o Leviaethan demorou tanto para lançar seu primeiro LP?


Flávio Soares: O Leviaethan foi formado em 1983 e o nosso primeiro LP foi lançado em 1990. Foram sete anos de mudança de formação, demos, gravações. Mesmo depois de assinarmos com a Rock Brigade Records, se não me engano fomos a primeira banda fora de São Paulo a assinar com a gravadora, sempre fizemos as coisas no nosso tempo, não tínhamos uma urgência, uma pressão, de ter que colocar um LP no mercado. Gravávamos demo para tocar na rádio, tocávamos muito na Rádio Ipanema FM na época. As bandas de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro mal eram formadas e já lançavam LP, nós não.



Rocks: Qual a importância do "Rock Garagem"? 

Flávio Soares: O "Rock Garagem" foi um marco no rock gaúcho, lançou muita banda. Foi um mega projeto idealizado pelo Ricardo Barão, ninguém até então tinha pensado em reunir as bandas de rock do Rio Grande do Sul. O Barão tinha na época um programa na Rádio Ipanema e recebeu o apoio da gravadora ACIT de Caxias do Sul para que o "Rock Garagem" acontecesse. Pra nós ele abriu muitas portas, talvez até por isso tenhamos demorado para lançar nosso primeiro registro. Tocávamos muito nos três estados da região sul do país. Tocávamos muito mesmo... Não era uma coisa normal para uma banda de heavy metal na época, tínhamos shows todos os meses. Recebíamos cachê, ficávamos em hotel 5 estrelas...O Leviaethan ficou conhecido através do "Rock Garagem". O projeto alavancou muito a banda. Na época tocamos até num festival da Antena 1 em Santa Catarina que tinha Made in Brazil, Kiko Zambianchi, o RPM que estava começando a estourar. O "Rock Garagem" é reconhecido até hoje, está fazendo 30 anos esse ano, o Leviaethan é um pouco mais antigo completaremos 31 anos em 2014.


Rocks: Dessas bandas lançadas no "Rock Garagem", quais continuam na ativa?

Flávio Soares: Das bandas que participaram do "Rock Garagem" só o Leviaethan e Os Replicantes que continuam na ativa. O Miranda tem os projetos dele na TV, o Edu K está na ativa também, mas não mais com a banda que ele tinha na época do projeto, a Fluxo.


Rocks: E como você vê a cena? 


Flávio Soares: A cena é cíclica. Estou nesse meio há mais de 30 anos e já vi altos e baixos da cena. Agora podemos dizer que a cena está em alta em se falando de qualidade das bandas existentes, tem muita banda boa. Temos descoberto muitas bandas de qualidade com essa parceria com a gravadora.
Porto Alegre entrou definitivamente para a rota de shows de fora, gringos. Isso por um lado ajuda muito, mas ao mesmo tempo atrapalha muito. É complicado isso, chega a ser quase uma concorrência desleal, tu concorre com bandas que não aparecem toda hora por aqui. O pessoal indo com mais frequência aos shows de bandas gringas também atrapalha as bandas de músicas autorais. As bandas ficam sem espaço para tocar, ficam sem data para tocar, a proximidade dos shows gringos faz com que os shows locais fiquem mais vazios. O canal, como costumo dizer para o pessoal que trabalha comigo, é tocar em outro estado ou tocar no interior. O interior ainda tem essa necessidade. A cena local ainda tem essa necessidade, a opção que temos é focar nesses nichos. Esse problema acontece em todos os estados brasileiros, talvez no norte/ nordeste isso não ocorra tanto por que lá ainda não se tem a mesma frequência de shows de bandas gringas como nas outras regiões. Ao mesmo tempo a agilidade de informação que existe hoje em dia, ter os CDs nas mãos, a facilidade de baixar é um ponto positivo, faz com que o material produzido tenha mais qualidade. Por outro lado, a quantidade de bandas existentes também faz com que a cena fique saturada.



Rocks: Bandas Covers x Bandas Autorais?

Flávio Soares: Eu tenho projeto de banda cover do Motörhead, a Iron Fist RS.  Não sou daqueles que acha que a banda cover tire espaço das autorais totalmente. Em São Paulo, eu até concordo. Lá os donos de bar só estão abrindo para isso, para bandas covers. Aqui ainda não acontece isso, mas já existem locais que estão se fechando para bandas autorais. Essa convivência bandas covers e bandas autorais tem que existir, é uma realidade. A banda autoral tem que ser criativa. Talvez a saída seja mesclar os shows, bandas autorais e covers juntas num mesmo evento. Nos shows da Iron Fist RS temos uma regra, não tocamos nunca num evento só de bandas covers, tem que ter junto uma banda autoral.


Rocks: Novidades?


Flavio Soares: Um dos projetos que estou envolvido é uma parceria com uma gravadora inglesa, a SECRET SERVICE RECORDS que  vai lançar bandas brasileiras no exterior. O Leviaethan vai ser a primeira banda a ser lançada por essa gravadora. A True Metal Press Management está fluindo, até devido a essa parceira que citei com a gravadora inglesa. Vou distribuir o que a gravadora lançar no exterior aqui no país, via co-irmã True Metal Records. Com isso a assessoria está crescendo bastante; queremos ter uma banda em cada estado brasileiro. Claro que até pode acontecer de dentro do cast da gravadora, ter algum estado que venha a ter mais de uma banda. Estou trabalhando atualmente com a M19, uma bandas das "antigas" que voltou, a One of Them, Netherboundb, El Diablo, It's all Red, Matricidium de SC, Revengin do RJ, Sound n Rage de Brasilia e Thunder Spell do Pará, entre outras.


Rocks: Se não me engano o Leviaethan começou a gravar ano passado o novo álbum, correto?

Flávio Soares: Na verdade estamos gravando já faz bastante tempo o novo álbum. Aconteceram várias coisas que adiaram esse lançamento. Músicas que foram perdidas num incêndio no estúdio onde gravávamos, tivemos que regravar tudo novamente, entre outras coisas. Começamos o processo de gravação em 2005 e por "n" motivos até agora não o concluímos. Em 2007 eu me acidentei, rompi os ligamentos e teve uma hora que ficamos de saco cheio disso. Isso até fazia com que perdessemos o foco. Largamos o disco novo "quieto" um tempo. Em 2010 completamos 20 anos do lançamento do primeiro LP, ficamos praticamente 2 anos trabalhando encima dessa data, fazendo shows, tocando o álbum inteiro nos shows. Agora com essa parceria com a gravadora aceleramos o processo um pouco. Até setembro desse ano lançaremos o novo álbum, temos prazo com a gravadora.
O primeiro álbum do Leviaethan relançamos em CD em 2012, o original era em vinil e o segundo estamos relançando agora. Lá fora vai começar ao contrário vai ser relançado primeiro o segundo CD da banda em três formatos: CD normal, CD Digipack e em vinil.


Rocks: De onde veio a ideia de lançar a Cerveja do Leviaethan?

Flávio Soares: A ideia de lançar a cerveja Leviaethan surgiu há muito tempo. Um bom tempo depois de ter a ideia fui num show no Beco e vi uns amigos divulgando a cerveja que eles produziam. Coloquei a ideia pra eles, que toparam na hora.Quando lançamos a cerveja tinhamos a preocupação de que a mesma agradasse tanto um cervejeiro artesanal, que gosta de uma cerveja de qualidade mas ao mesmo tempo agradasse aquele que toma cerveja só pra matar a sua sede. Que está costumado a tomar a Brahma, sua Polar, a sua Skol... É uma cerveja artesanal, forte, tem todas as características de uma cerveja artesanal, mas é uma cerveja palatável. Ela é produzida pela Loeffler Cervejas Artesanais daqui de Porto Alegre. A cerveja do Leviaethan é uma cerveja vermelha, a nomenclatura correta seria uma Red Ale, mas nós resolvemos chamá-la de Blood Ale ( Risos). Voltando ao assunto do relançamento no exterior dos álbuns do Leviaethan. A edição digipack do nosso segundo álbum vai ter uma tiragem de 100 unidades  e vai vir com o CD e com a camiseta com o rótulo da cerveja, que ficou muito legal.


Rocks: E os festivais? O Carnametal?

Flávio Soares: O Carnametal eu idealizei há quatro anos atrás e acabei conseguindo viabilizar o evento no Eclipse Bar. Fazer um evento de 4/5 dias corridos dentro do Carnaval não é uma ideia original, porque já existe em outros lugares, mas aqui em Porto Alegre não tinha, tínhamos essa necessidade.
O pessoal do bar me dá a possibilidade de fazer qualquer loucura lá. (Risos)
O Carnametal  nasceu do True Metal Festival que eu iniciei fazendo num bar na João Pessoa, lá no Guanabara Bar em 2004/2005 e já estamos na décima terceira edição do festival, do True.



Rocks: E o programa "Mundo Metal"?

Flávio Soares: O Mundo Metal foi criado por Gustavo B. Rock, quando ele estava na Ipanema FM em setembro de 2010. Eu assumi o programa em dezembro de 2010. O programa é veiculado na rádio aos domingos à meia-noite e tem duas horas de duração com participação direta do publico através da page do facebook. Atualmente não temos mais como saber qual o publico que está ligado, mas quando tinha medição do IBOPE girava em torno de 8 a 10 mil por minuto. Também tenho um programa às quintas-feiras numa web radio, a Santa Radio (ex Radio Rocker).


Rocks: Agenda da banda?

Flávio Soares: No dia 02 e 03 de agosto iremos participar do "Agosto Negro" em Santa Catarina, daqui de Poa vai a Tequila Baby e a Distraught, além do Leviaethan se apresentar nesse evento. Temos um show em São Borja, não recordo a data agora. Apesar da gente ter que focar no álbum novo, cumprir prazos e tal a gente tem que tocar, mostrar trabalho.



Rocks: Conselho, recado para os leitores do blog , alguns deles querem entrar para o meio, criar sua banda...

Flávio Soares: Conselho pra fazer qualquer atividade : SEJA SEMPRE FIEL A SI MESMO, nunca seja influenciado por A ou por B, nem por grana. Faça aquilo que tu tem vontade, que tu acha que é o correto.


Rocks: Obrigada Flávio por esse bate-papo tão agradável.








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