Notus’ é o deus do vento sul na mitologia grega, simbolizando o vento que sopra no sul do Brasil chamado Minuano, acrescido da palavra latina ‘Noctis’ que completa a sua aura noturna e fria.
A sonoridade da banda é uma junção do Heavy Metal e Thrash Metal “Old school” com potentes vocais heavy metal e operísticos femininos, criando um som bem diversificado e original em relação ao cenário mundial de bandas com vocais femininos.
) nesse momento tão especial de sua carreira, para conhecer um pouco mais de sua formação, experiência, expectativas em relação a esse grande show, abertura do show de uma das maiores vocalistas do mundo, entre outros assuntos.
Como foi a sua iniciação no mundo da música? Qual a sua formação e influências?
Juliana Novo: Eu sou natural da cidade de Rio Grande. Desde pequena eu gostava de cantar, gostava de ouvir rock antigo, o que tocava nas rádios isso nos anos 80, rock internacional da época. Gostava de ouvir os discos do meu pai, ouvia o som que tocava nas rádios. Também já gostava de cantar em inglês na época, mas eu era muito criança, não levava nada à sério. Meu pai tocava violão, até quis me ensinar mas eu não quis. Depois que fui crescendo, fui adquirindo gosto pela música, e tive vontade de me aprofundar mais. Com 14 anos comecei a ouvir metal com as bandas Metallica e Sepultura. Então resolvi fazer aulas de violão e guitarra. Fiz aulas durante um ano e depois que parei com as aulas comecei a tocar o som que eu gostava mesmo: Pantera, Iron Maiden, Metallica e daí é que veio a vontade de montar uma banda. A idéia inicial era fazer uma banda só de mulheres, mas era difícil achar "gurias" (do gauchês - semelhente a mulher/ menina no caso) que tivessem comprometimento. Reuní um grupo e chegamos até a ensaiar mas não foi adiante esse primeiro projeto.
Na época conheci o
Márcio Guterres, meu companheiro de banda até hoje, o Lord Grave War, vocal e baterista atual da
Crucifixion BR. Em 96 formamos a Crucifixion, banda de Black Metal, que mais tarde mudou o nome para Crucifixion BR. No início eu tentei tocar guitarra um tempo, era mais um ensaio de cordas, não tínhamos baterista. Para mim era meio complicado tocar guitarra por que sou canhota, até uma vez mandei fazer uma guitarra personalizada para mim mas me passaram um orçamento, cheguei a pagar uma parte e depois me pediram outro valor e a guitarra acabou sendo vendida para outro músico, foi então que desisti da guitarra.
Rocksblog: Da guitarra para a bateria....Como foi feita essa troca?
Juliana Novo: Eu estava desmotivada a continuar tocando guitarra como falei foi então que o Márcio me sugeriu a troca de instrumentos e eu pensei que poderia ser fácil tocar bateria e com a ajuda dele foi mesmo. Também resolvi tentar por que tínhamos dificuldade de achar alguém que tocasse bem. E não foi que aprendi? Foi muito fácil pra mim. Em um ano eu já tocava com pedal duplo, fazíamos shows em Rio Grande e Pelotas.
Rocksblog: Você participou da seleção para nova vocalista do Nightwish, gravou CDs com duas bandas estrangeiras, nos fale sobre essas experiências.
Juliana Novo: Na época que fiquei sabendo da saída de Tarja Turunen do Nightwish, ou melhor, quando tiraram ela da banda logo depois soube e que a banda estava procurando uma vocalista nova eu comecei a mandar demos para eles. Participei do fórum oficial do Nightwish, eu era a única cantora brasileira. Foi quando conheci o multi-instrumentista
Thomas Kampert que me convidou para participar da banda americana
Dremora e gravamos o CD, foi tudo feito online, ele lá eu aqui no Brasil. Parte num estúdio, parte na minha casa.
Em 2008 o multi-instrumentista
Peter Hutyra me achou pelo Myspace, gostou da minha voz e me convidou para cantar numa banda da Eslováquia, a
Lamented Despondency na verdade o objetivo era que a namorada fosse a vocalista da banda, mas ela não conseguiu cantar, é meio complicado já que ela é cantora de coral, não se adaptou em cantar ao microfone, costumava cantar sem microfone.
Rocksblog: Como foi largar tudo em Rio Grande e vir para a capital?
Juliana Novo: Oito anos depois de criarmos a Crucifixion viemos para Porto Alegre, primeiro eu vim e quase um ano depois veio o Márcio aí pudemos fixar a base da banda aqui como queríamos. Por ser um cidade grande isso nos proporcionaria mais chances para investimos na banda e também pelo mercado de trabalho propriamente dito ainda não vivo só de música sou programadora e analista de sistemas. O baixista não nos acompanhou ai tivemos que procurar um substituto para ele, após várias tentativas achamos o
Matheus Souza que está na banda há três anos, ele toca muito bem e tem o feeling da banda. Desde que morava em Rio Grande eu já trabalhava com programação e análise de sistemas e quando vim para Porto Alegre consegui um estágio na área. Isso depois de ralar muito. Para chegar até aqui até carona de caminhão da Ipiranga eu peguei (risos), trabalhei um tempo na refinaria e o pessoal me deu essa força. Aqui em Porto Alegre também tive sorte enquanto procurava emprego tive apoio do pessoal do antigo Bar Odisséia, eu costumava deixar minhas coisas, malas lá enquanto procurava emprego. Quando me mudei para Porto Alegre eu comecei também a procurar uma banda para cantar. Eu tinha necessidade de cantar e não só tocar bateria, foi assim que em 2008 surgiu a
Noctis Notus uma banda de heavy/ thrash metal, onde eu pude mostrar essa minha outra faceta o canto, canto lírico inclusive mesclado com outras nuances .
Rocksblog: Antes da criação da Noctis Notus você participou de um coral, nos conte essa experiência?
Juliana Novo: Exato, em 2005 fiz um teste para cantar no coro da
OSPA e fui aprovada. Participei do coro durante quase um ano, foi uma grande experiência e aprendizado. Aprendi inclusive a cantar em várias línguas: italiano, alemão, latim e tive contato com grandes solistas que estão há muito tempo lá, sempre me incentivaram. Infelizmente tive que parar com o coro por que não estava conseguindo conciliar com minhas outras atividades.
Rocksblog: E em relação ao lançamento de material tanto da Crucifixion, quanto da Noctis Notus
?
Juliana Novo: Em 2011 lançamos o EP da Crucifixion BR com 3 músicas pelo selo da Nova Zelândia,
Satânica Productions, que já se manifestou querer lançar o CD. As três músicas do EP estão no álbum que já está gravado mas ainda não foi lançado, estamos mandando material para gravadoras maiores. E o EP da Noctis Notus pretendo gravar esse ano logo que a formação da banda estiver estabilizada, como já falei no show do dia 04/04 vou estar acompanhada de músicos convidados.
Rocksblog: O que mais a Juliana Novo faz além de cantar e tocar bateria? Essa pergunta é meio xavão, mas... você vive somente de música?
Juliana Novo: Não. Como já falei sou programadora, analista de sistemas. Desde quando morava em Rio Grande já trabalhava na área. Sou mãe, tenho um filho de 14 anos que também gosta do estilo musical, é até cabeludo...mas não por nossa imposição. Ele se orgulha dos pais malucos entre aspas que tem, tanto o pai quanto a mãe músicos (risos) Inclusive o Márcio, o pai dele, fala para ele não seguir a gente, que ele tem que estudar, fazer faculdade, banda não dá dinheiro, não faz "errado" as coisas, olha no que a gente se meteu?ele diz. Ele curte nosso som, ouve também Iron Maiden, Dimmu Borgir
, mas nada como nosso tempo, as novas gerações já se ligam mais em RPG, games, também curtem som, mas não com a mesma intensidade com era antes.
Rocksblog: Nos fale do problema que ocorreu no concurso Cante no Soulspell Act.II.
Juliana Novo: Tive um desentendimento com os produtores do concurso. Acredito que o concurso é mais direcionado para músicos que moram em São Paulo, ou locais mais próximos ou ainda para músicos que possam se bancar, que não é meu caso. Hoje em dia não é qualquer um que pode ficar dois finais de semana em São Paulo, a maioria dos músicos, tem trabalhos paralelos. Resumindo eu manifestei minha opinião contrária as exigências feitas e fui desclassificada. Tinha um esquema de venda de ingressos o que era inviável no meu caso que não conhecia ninguém na cidade, como eu iria sair vendendo os ingressos? pela rua? (risos)...mais ou menos isso. Fora que ficou bem claro que eles não curtiam vocal lírico.
Rocksblog: Aproveitando o gancho como você vê esse preconceito que se vê hoje em dia aqui no Brasil principalmente em relação a vocal lírico, melódico no metal?
Juliana Novo: Acho isso ridículo falarem que a moda agora não é vocal lírico. Isso devido a entrada daquela pessoa no Nightwish que não é do meio, que é fora do metal, que não tem idéia no que se meteu... Isso é comercialização pura, a "moda" do momento não é lírico, melódico? Já teve bandas que me convidaram para cantar e me dispensaram falando que a "onda" do momento não é essa...Tem gente que fala mal da Tarja por que ela tem um vocal lírico. Ela tem um voz linda, canta divinamente. O que é isso? Metal não tem moda, música boa não tem moda, não depende disso. Metal é uma coisa que fica, é atemporal. Tem álbum de décadas atrás, dos anos 60 que nunca irão sair da moda. Tem certas coisas que não aguento mais ouvir. A comercialização, popularização do metal....Pop é Michel Teló (risos)!!
Rocksblog: Preconceito quanto ao canto lírico já falamos e preconceito quanto ao fato de você ser uma mulher no meio metal?
Juliana Novo: O mundo do metal é cheio de homens, ainda mais no meio extremo que também convivo. É claro que sinto preconceito, primeiro pelo fato de ser mulher, alguns ainda tem a visão que mulher não toca nada, mulher sexo-frágil. E depois esse fato é agravado por ser uma mulher tocando bateria no caso da Crucufixion BR. Olham meu braço fininho e não levam fé, pensam tipo: será que toca? Acham que vou fazer um som na manha, calminho. Adoro ver a expressão de surpresa, a cara de chocados quando começo a tocar, isso não tem preço ( risos).
Rocksblog: Como você descreve a cena metal daqui, a cena brasileira?
Juliana Novo: Temos um número bem grande de bandas de metal, dos mais variados estilos, tem para todos os gostos. Aqui também temos bastante locais para tocar. Tem épocas que se tem mais shows, em outras menos shows, mas sempre se consegue tocar, às vezes as próprias bandas se reúnem e fazem algo juntas, se organizam para poder tocar.. Agora a deficiência que existe, na minha opinião, é em relação à gravadoras, infelizmente tem que sempre se pensar em gravadoras do exterior. As grandes gravadoras estão lá fora.
Rocksblog: E como está a agenda de show das duas bandas?
Juliana Novo: Vamos dar um tempo nos shows devido a grande quantidade de shows que tem agendado aqui na cidade. O pessoal acaba sem grana para ir nos shows e todo mundo é prejudicado. Vamos deixar para agendar shows mais para o mês de maio.
Rocksblog: Como é feita a divulgação das bandas que você participa?
Juliana Novo: A divulgação é toda feita por mim pela internet a grande parte do tempo. O pessoal daqui do Brasil não apoia muito as bandas brasileiras, isso generalizando. Só depois de fazer sucesso lá fora é que tu é valorizada no teu país, é sempre assim, na maioria dos casos é assim. Tenho muito apoio no exterior, respeitam o meu trabalho como cantora lá fora, inclusive tenho fãs do forum da Tarja, fãs dela que me acompanham até hoje, isso é muito gratificante para mim. A Dremora, a Lamented Despondency e é claro a Crucifixion BR me abrem muitas portas temos entrevistas, resenhas no exterior muito favoráveis. Nossas músicas tocam em rádios de Portugal, Estados Unidos entre outros lugares. Já abrimos shows do
Krisiun,
Gama Bomb,
Dark Funeral é ótimo se sentir respeitada, sentir teu trabalho valorizado. Nós nos identificamos com o pessoal da Krisiun, por que eles tiveram muitas dificuldades no início de carreira e olha aonde eles estão hoje em dia. Tem reconhecimento mundial. E a gente passou muita dificuldade no início ,ainda passamos tanto que estamso na luta para lançar nossos trabalhos. Esse tipo de coisa é que te faz ir me frente. Conheci também o pessoal da
Korzus, eles ouviram todo nosso CD e elogiaram e também se surpreenderam em me conhecer... Até o Pompeu brincou comigo, de novo a história do meu muque, ou da falta dele.... pediu para eu mostrar (risos).
Rocksblog: E qual a sua opinião sobre o ECAD querer cobrar o uso de embeb dos blogs ?
Juliana Novo: Isso eu não fiquei sabendo. A internet ajuda muito as bandas independentes e até as não-independentes, famosas diga-se de passagem. Tem muita gente que não tem condições de ficar comprando tudo que é CD, DVD, fora que tem também muito material importado, cheio de impostos. Eles querem é lucrar, só pensam nisso...(risos) Isso é uma vergonha. Tudo bem que algumas gravadoras foram prejudicadas pelos freedownloads, mas os tempos mudam. As bandas tem que se adaptar às mudanças, pensar em outras formas de lucrar. Fazer tours, vender camisetas, o caminho é por aí. O criador do megaupload ajudou tanta gente, coitado do cara foi usado como válvula de escape. O que eles querem? Acabar com tudo?
Rocksblog: No final de 2011 teve uma polêmica gigantesca na internet, sem querer falar, mas já falando: O que você achou do desabafo do Edu Falaschi?
Juliana Novo: Minha opinião é quase que unânime a todo mundo. Ele não precisava ter falado da maneira que falou. Tudo bem, claro que temos problema, que tem shows que os fãs não comparecem mesmo. O pessoal prefere gastar em bebida do que ir num show, isso acontece às vezes. O negócio é atrair o povo aos shows, usar criatividade.
Rocksblog: Festivais, vocês se inscreveram em algum recentemente?
Juliana Novo: Nos escrevemos para o Metal Battle Brasil 2012 pela Crucifixion BR, mas infelizmente, no primeiro ano que nos inscrevemos o evento é cancelado. Esse ano o Brasil não participará soube disso recentemente, ,mas ano que vem estamos dentro, foi problema de verba e tal para as bandas, então não deixa de ser positiva essa iniciativa da Roadie Crew. Falando em festival achei legal a idéia do Metal Open Air, que esse ano vai ser em São Luis [Maranhão], a idéia dele ser itinerante, tomara que se concretize isso, privilegiando as bandas locais, é uma ótima iniciativa.
Rocksblog: Músicas Autorais x Covers?
Juliana Novo: Eu acho legal cantar/ tocar cover mesclando com as autorais num show. Fazer releituras, colocar tua personalidade nas músicas já consagradas, anima o pessoal que está assistindo o show. Não acho nada de pejorativo nisso.
Rocksblog: Você já teve contato com
Tarja Turunen, nos conte como e quando foi isso?
Juliana Novo: Sim. Meu encontro com a Tarja foi em 2008, um dia antes do show que ela fez aqui em Porto Alegre no Opinião, numa sessão de autógrafos da Loja Multisom no Shopping Iguatemi. Ela foi muito acessível e gentil comigo. Eu me apresentei para ela como cantora, e ela me desejou sorte. Um amigo meu alemão entregou para ela um pendrive com algumas músicas minhas quando ela esteve em Munique e eu comentei isso com ela e disse que adoraria abrir um show dela e agora isso está prestes a acontecer...é um sonho. Sou fã de Tarja Turunen há muito tempo, estou me sentindo plenamente realizada. As vendas dos ingressos já estão no segundo lote, estou com a expectativa que lote o Bar Opinião. Tenho um amigo de Salvador que ficou tão empolgado com o fato de abrirmos o show da Tarja que está pensando em vir pra cá assistir.
Na verdade depois de ouvir a vocalista que decidi cantar profissionalmente. Tipo, é isso que quero fazer. Outro sonho meu seria poder cantar para ela...quem sabe? Depois de abrir um show dela que há algum tempo atrás era só sonho e agora faltam poucos dias para isso acontecer...Tudo é possível.
Rocksblog: Qual será o repertório da Noctis Notus para o show do dia 04/04?
Juliana Novo: No repertório a banda executará músicas autorais, uma música da banda Dremora, e dois covers um do Epica e um do After Forever. Inclusive o tecladista convidado que vem de São Paulo exclusivamente para o show vai fazer uns arranjos novos para as músicas da Noctis que não tinha tecladista, então vai ficar bem diferente, vai ficar muito legal. Aguardem!!
Rocksblog: Obrigada Juliana pela entrevista. Por poder conhecer o teu lado profissional e um pouco do pessoal. E espero poder contar logo com novas matérias tanto sobre a Noctis Notus , quanto da Crucifixion BR. Foi um prazer fazer essa matéria!! Até o show!! Sucesso!!