Por Homero Pivotto Jr.
Os suecos do Sabaton aventuram-se na história para narrar conflitos armados em suas composições. Aqui fora, no mundo real, o quinteto precisa usar as armas que têm para batalhar a própria sobrevivência no mercado da música. E, ao que tudo indica, tem saído vitorioso de suas contendas. Já são quase 20 anos de combate ao lado das forças do power metal mundial. Nesse tempo, a banda já disparou oito álbuns de estúdio, fez incursões ao vivo para além de suas fronteiras e levou condecorações pela estratégia de criar o próprio festival – Sabaton Open Air – em sua terra natal.
Atualmente, o grupo mostra seu poder de fogo rodando o mundo com a turnê do disco mais recente, The Last Stand, lançado em agosto deste ano. Essa cruzada inclui seis ofensivas em palcos do Brasil. Duas delas capitaneadas pela Abstratti Produtora: Porto Alegre (no Opinião) e Curitiba (no Music Hall), em 2 e 3 de novembro, respectivamente.
Sempre de prontidão, o baixista e fundador Pär Sundström respondeu, com exclusividade, algumas perguntas sobre a luta para manter-se positivo e operante com uma banda de som pesado nos dias de hoje.
Aproveitando a temática principal do Sabaton (guerras): há quem diga que em batalhas não existem regras. O que você pensa sobre isso com base no conhecimento que tem sobre o tema?
Pär Sundström – Eu aprendi que sempre haverá quem vive de acordo com as regras e quem não. E há, ainda, aqueles que fingem se importar, mas, na verdade, não estão nem aí para elas.
Hoje em dia, as pessoas não consomem música como no passado. Acha que ganhar a vida com banda pode ser considerado uma guerra por sobrevivência (em um mercado cheio de armadilhas)? Como permanecer vivo no atual cenário da indústria musical?
Pär Sundström – É bem complicado, mas isso não ocorre só na música. Alguns bastardos gananciosos tentam pegar tudo que podem dos artistas. Fãs normalmente não sabem, mas as empresas que vendem ingressos para shows são controladas por organizadores desse tipo de eventos. Essas pessoas também querem controlar a venda de merchandise. Logo, não sobra nenhuma renda exclusiva para os músicos. Gente gananciosa vai acabar com este negócio em que estamos inseridos, assim como já fizeram com outras coisas no mundo.
Podemos dizer que criar seu próprio festival – o Sabaton Open Air – foi uma estratégia para manter a banda relevante no mercado? Por favor, fale um pouco sobre o evento.
Pär Sundström – Criamos o Sabaton Open Air para termos uma festa legal de lançamento do disco Art of War, em 2008. Agora, praticamente 10 anos depois, é um dos maiores e mais conhecidos festivais da Suécia. Gente de 30 países diferentes participa dos shows cada ano. Não queremos as maiores ou mais famosas bandas para atrair público. Chamamos aquelas de que gostamos para fazer, assim, um ótimo festival dedicado aos fãs do Sabaton de todos os lugares do mundo.
De onde veio a ideia de abordar assuntos históricos, principalmente conflitos armados, nas letras?
Pär Sundström – Precisávamos de algo para abordar e pensamos que seria mais excitante cantar sobre o mundo real do que inventar histórias. E é realmente mais empolgante. Havia um interesse em história antes da banda, mas ele cresceu com o passar do tempo.
O Sabaton tem uma música sobre veteranos brasileiros que participaram da Segunda Guerra Mundial. Como ficaram sabendo da história deles e por qual razão resolveram homenageá-los?
Pär Sundström – Isso, a música chama-se ‘Smoking Snakes’. Soubemos da história por meio de fãs que nos enviaram e-mails contando o fato e repassando outras informações para que pudéssemos entender o que aconteceu. Foi um acontecimento interessante e que apontava para um bom título. Normalmente, em nosso álbuns, escrevemos sobre histórias mais famosas e outras nem tanto. No Brasil as pessoas até podem saber sobre as ‘Cobras Fumantes’, mas no resto do mundo não.
O Sabaton fez uma releitura de ‘All Guns Blazing’, do Judas Priest, e até surgiram boatos de que Rob Halford poderia fazer uma participação especial na faixa. Não é segredo que o vocalista é gay e conquistou respeito no cenário metal – que ainda é, predominantemente, do sexo masculino. Lutar contra a homofobia e outros preconceitos (racismo, sexismo…) é uma batalha que vale ser encampada?
Pär Sundström – Sim, fizemos uma versão, mas nunca incluímos Rob Halford. O outro vocal é feito pelo nosso antigo guitarrista Thobbe Englund, que também fez os arranjos da música. Mas, com certeza, penso que é bom lutar pelo direito de ser livre.
Humanos estão sempre brigando entre si. Em sua opinião, as guerras do passado podem nos ensinar algo, no sentido de lutarmos apenas se for por um futuro melhor?
Pär Sundström – Infelizmente, não aprendemos. Sempre haverá batalhas e guerras. Hoje em dia, em boa parte, são conflitos menores, mas algum dia irão envolver armas nucleares. Então, tudo será diferente.
Seu oitavo e mais recente disco, Last Stand, foi outro registro muito bem recebido pela crítica e pelo público. Seria outra batalha vencida para manter o heavy metal uma força imbatível?
Pär Sundström – Sim! Estamos orgulhosos pelo álbum e felizes de ver o que as pessoas pensam. Ficamos realmente satisfeitos quando os fãs aprovam. Quando completamos o disco, não sabíamos como nos sentir. Era muito cedo para percebermos algo. Mas, a medida que o tempo foi passando e mais pessoas ouviam, nós começamos a curtir.
O Sabaton já tocou no Brasil e tem uma base leal de fãs aqui. Por que acredita que sua música despertou atenção de tanta gente em nossa país e o que esperar da turnê que está por vir?
Pär Sundström – Fizemos uma turnê aí até o momento e foi ótima. Mas o Sabaton não tinha alcançado tantos fãs até esse momento. Agora, esperamos mais pessoas. É como as coisas funcionam. Quanto mais vezes voltarmos, mais gente vai aparecer nos shows. Ao menos é assim no resto do mundo. Esperamos que o Brasil siga esse padrão!