Quando pisei no Beira-Rio em torno das 17h, a banda paulistana Doctor Pheabes já havia iniciado a sua apresentação, para minha surpresa. Como não assisti o show na íntegra, e a qualidade do som não estava boa, prefiro não avaliar a banda. Confesso que não a conhecia, só de nome.
Pontualmente às 19h a Cachorro Grande começou a sua apresentação. Bairrismo à parte, essa sim foi a banda de abertura dos Rolling Stones em Porto Alegre, que me desculpe a banda anterior. A banda de rock porto-alegrense, já consolidada nacionalmente, formada em 99, tocou aproximadamente 50 minutos. Fez um apanhado dos seus maiores sucessos como "Roda Gigante", "Sinceramente", "Sexperienced", "Lunático", entre outras. O público cantou e vibrou com a banda o tempo inteiro.
Confesso que não segurei as lágrimas, assim como muitos, na hora que ouvi os primeiros acordes de "Sinceramente". Abre aspas, não parecia estarmos diante de uma banda de abertura. A qualidade do som, a iluminação, a qualidade da banda, impecáveis. Posso afirmar, sem titubear, que foi o melhor show de abertura que já presenciei em toda minha vida. Não posso deixar de citar a alegria que os integrantes da Cachorro Grande demonstravam por estarem abrindo o show de uma das maiores bandas de rock do mundo. Aliás, parabéns pela escolha da banda, o público ficou satisfeito. Com certeza na cena gaúcha, não existe banda que pudesse cumprir essa função com total maestria como o quinteto fez. Retifico, somente a Cachorro Grande poderia fazê-lo; nenhuma outra banda merecia tal incumbência. Parabéns, gurizada! Deu um imenso orgulho de ser gaúcha assistindo-os.
Com uma pontualidade quase que britânica, a banda formada por Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts iniciou a sua apresentação exatamente às 21h02. Apresentação que encerrou a etapa brasileira da tour sul-americana da banda.
O show iniciou com "Jumping Jack Flash" seguida de "It's only Rock'n'Roll", emendando uma sucessão de hits de diversas fases da discografia da banda e que enlouqueceu o público que quase lotava o estádio. Quase, por causa, acredito eu, da ganância de cambistas que ficaram com uma parte dos ingressos nas mãos, fato que deixou uma pequena parte do estádio desocupada, e que principalmente impossibilitou alguns fãs de assistirem ao show...mas voltando para o show que é o foco da resenha.
Antes do show da Cachorro Grande choveu muito, mas depois deu uma aliviada. Fiquei receosa que no horário do show principal, que alguns dos presentes, aguardavam por décadas, voltasse a chover forte e que o assim perdesse um pouco do seu brilho...Mas isso não ocorreu, o brilho dos Stones é à prova de qualquer intempérie.
São Pedro não deu trégua, choveu praticamente o show inteiro. Em alguns momentos a chuva era extremamente forte. Fato que não interferiu em nada na performance do quarteto inglês. A banda parecia não estar se importando com a chuva. Poucas bandas teriam essa postura. Isso mostra o respeito dos músicos para com seus fãs e talvez seja um dos fatores que os tornaram uma das maiores bandas do mundo. E a plateia, estimada em 50 mil pessoas, retribuiu com um entusiasmo ímpar.
Vários críticos afirmaram que o show na capital gaúcha foi o melhor entre os já realizados no país, isso incluindo não somente os shows da tour "Olé", assim como as apresentações dos Stones em anos anteriores.
Na primeira interação de Mick Jagger com o público o vocalista não limitou-se a falar português, ele usou, sim, um bom "gauchês": "Olá, Porto Alegre! Tudo bem, gurizada?" falou. Não preciso dizer que a platéia surtou. E durante o show isso repetiu-se inúmeras vezes. O Frontman falou da beleza das gurias gaùchas, falou de um passeio que a banda teria feito no nosso ônibus turístico...
É a primeira vez em Porto Alegre. "Capaz" que já vamos embora do Brasil?" Entre outras conversas pra lá de engraçadas.
Foram um pouco mais de 2h10 de show. O que falar de Sir Mick Jagger, com seus 72 anos de idade e sua energia de um guri de 20 anos? Não, não estou exagerando. Quem compareceu no show da última quarta-feira, dia 02 de março, sabe disso. O frontman não parou um minuto. Ia de um lado para o outro do palco, dançando, requebrando, cantando sem parar, trocando de figurino inúmeras vezes. Ia e voltava na passarela que entrava dentro da pista premium para delírio dos presentes. E não só ele, a banda toda mostrava uma vitalidade assombrosa para uma banda que já contabiliza mais de 50 anos de estrada. Nessa hora me pergunto...Qual o segredo dos Stones?
Abre aspas, depois de presenciar esse show, vou repensar a utilização do termo "Frontman". Poucos são os mortais que conduzem um show como ele, fato inegável. O público ficou meio que enfeitiçado durante a execução das 18 músicas que foram apresentadas. Público este composto pelas mais variadas faixas etárias.
Não posso deixar de falar na estrutura de 20 metros de altura do palco, equivalente a um prédio de sete andares, e 60 metros de comprimento, que garantiu boa visibilidade ao público que fica mais atrás. Ao redor do palco telões de LED de 208 metros quadrados também foram instalados. O som impecável. E a qualidade da banda de apoio e da dupla de backing vocals que se alia à banda durante às turnês? Também da mesma forma impecáveis, exímios músicos. Uma super produção poucas vezes vista no Brasil.
Àpices do show? Inúmeros. Todos, para ser mais correta.
Pensando no meu gosto pessoal. "Let’s Spend The Night Together" a música escolhida pelos fãs da banda em votação feita no site dos Stones foi contagiante. Foi antes da execução dessa música que Sir Mick Jagger começou a conversar com o público. "Paint It Black" outro hit que eletrizou a plateia. Não dá para não citar na metade do show as duas faixas que Keith Richards interpreta. O estádio quase veio abaixo com "Start Me Up" seguida da emblemática "Sympathy for the Devil" Difícil mesmo dizer o àpice desse show.
O bis teve duas músicas. Iniciou com “You Can’t Always Get What You Want” que teve um plus aqui na cidade - A música contou com a participação de 24 integrantes do Coral da PUCRS, simplesmente foi de arrepiar esse momento.
Após, eis que é ouvido o riff pra lá tradicional de "Satisfaction" e o público mais uma vez ensadece. E mais uma vez acompanha o quarteto tempo integral. O hit tradicionalmente encerra os shows da banda. Mesmo com o inevitável final do show o público era só alegria. Não se viu depois do show semblantes entristecidos, mesmo com o frio e com o vento que fazia no entorno do estádio. Todos estavam satisfeitos com o mega-espetáculo que acabaram de presenciar.
Foram mais de duas horas de show, um show memorável que transformou o gigante do Beira-Rio numa grande celebração ao rock n' roll. Um show que vai entrar para a história da capital gaúcha. A primeira vez que os Stones apresentaram-se em Porto Alegre. Dia em que 50 mil pessoas cantaram e dançaram na chuva sem perceber, sem se importar.
Por fim os fogos preparados para simbolizar o fim da performance. Era nítida a satisfação da banda também, que era só sorrisos. Que durante o show abraçavam-se, felizes com a recepção calorosa em terras gaudérias. Com certeza o show aqui na cidade entrou para o rol das melhores apresentações da banda.
Vida longa aos Stones, vida longa ao Rock N' Roll.
Setlist:
1- Jumpin’ Jack Flash
2- It’s Only Rock ‘N’ Roll (But I Like It)
3- Tumbling Dice
4- Out Of Control
5- Let’s Spend The Night Together (Música escolhida por votação)
6- Ruby Tuesday
7- Paint It Black
8- Honky Tonk Women
9- You Got The Silver (com Keith Richards nos vocais)
10- Before They Make Me Run (com Keith Richards nos vocais)
11- Midnight Rambler
12- Miss You
13- Gimme Shelter
14- Start Me Up
15- Sympathy For The Devil
16- Brown Sugar
Bis:
17- You Can’t Always Get What You Want (com o Coral da PUCRS )
18- (I Can’t Get No) Satisfaction
Fotos: Sônia Butelli
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