Escrito por Henrique Pedregosa
Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown, os Tribalistas, finalmente, debutaram em território gaúcho. Na última sexta-feira, o trio trouxe a sua primeira e tão aguardada tour a Porto Alegre.
A expectativa de um grande show, tendo em vista a importância dos três artistas e do trabalho construído juntos, foi correspondida em um espetáculo de boa música e uma infraestrutura digna do grande evento.
Faltando poucos instantes para iniciar o espetáculo, a tempestade que perdurou durante toda a sexta-feira (24/08) na capital gaúcha, abriu espaço para uma lua brilhante que pairou bem no centro do palco no anfiteatro montado no Estádio Beira-Rio.
Às 21h23 iniciou-se o show que foi um verdadeiro carnaval para os sentidos do público presente.
De todas as idades, a plateia bem diversificada, tinha em comum a alegria de estarem ali dançando e cantando estampada em seus rostos, sucessos do trio, mesclados entre hits compostos desde antes de serem Tribalistas, em suas já consolidadas respectivas carreiras solo.
Passando pelo primeiro álbum de 2002, então já unidos como trio - que foi sucesso de venda no Brasil e em vários países da América Latina e Europa, com mais de 3 milhões de cópias vendidas - até o mais recente trabalho, lançado em 2017, fenômeno nas plataformas digitais.
Acompanhados da ótima banda composta por Dadi (baixo, teclado, guitarra), Pedro Baby (guitarra e violão), Pretinho (percussão e cavaquinho) e Marcelo Costa (bateria), o setlist iniciou com a música homônima do grupo “Tribalistas”.
Carlinhos Brown foi incansável em seu set de percussão presente no palco, com os mais diversos elementos típicos ou originalmente criados. Em “Carnavália” nota-se a multifuncionalidade da banda que acompanha o trio, com o Pretinho, percussionista tocando cavaco e Dadi, o baixista, tocando teclado.
O passar do tempo não fez mal algum ao trio, pelo contrário...
Em “Um Só”, Marisa Monte canta utilizando dois microfones, o segundo dedicado às vocalizações com efeitos. O trio, aliás apresenta um resultado já conhecido, porém belo na soma das vozes – grave, carregada de sotaque e quase falada de Arnaldo Antunes, a discreta em quase todo show, porém quando exigida, espetacular voz de Carlinhos e Marisa Monte, que dispensa comentários.
Neste momento, o trio agradece Porto Alegre, aplaudindo o público e saudando a Lua que também apareceu para o show. “Vilarejo”, primeira das diversas músicas gravadas originalmente por Marisa Monte, foi a música seguinte a ser executada. Há de se comentar o incrível visual do palco, entre luzes e telões com imagens enriquecendo o show a cada instante.
O show alterna entre músicas mais empolgantes e músicas mais lentas como “Anjo da Guarda”, que embalou o público com sons de caixa de brinquedo executadas por Carlinhos. Em “Fora de Memória”, a multidão acompanhou a música com palmas, e percebem-se pessoas ao redor, com os olhos fechados, como se quisessem aproveitar cada momento do espetáculo ao máximo.
O foco do trio, claramente, é a qualidade musical a ser apresentada. Em “Diáspora”, fica nítida a grandeza dos nomes ali presentes na apresentação. Apesar de renomados, há claramente um comprometimento em entregar o melhor resultado ao público. Marisa Monte ressalta que as músicas são feitas para o público, músicas estas que haviam começado a surgir em composições entre os três, muito antes de surgir os Tribalistas. A primeira delas foi “Água Também é Mar”.
Em seguida, é executada “Um a Um”, onde destaca-se a percussão de Carlinhos, brincando com o baixo. Arnaldo Antunes também utiliza instrumentos de percussão extravagantes em “Ânima”, e Carlinhos Brown agora utiliza um instrumento de sopro.
O resultado é um show tanto para os ouvidos quanto para os olhos.
“Velha Infância”, um dos grandes hits do trio, faz o povo cantar muito mais alto. A banda parece também soltar-se ainda mais no palco, com grande leveza. O Beira-Rio é iluminado com as luzes dos celulares. A energia é contagiante com o famoso grito de “Ajaiô” que o público responde ao Carlinhos, no final da música.
O clima é quebrado em seguida, com Carlinhos caminhando e tocando com baquetas a sua própria roupa, enquanto Arnaldo toca um carretel de pescaria. São os instrumentos que acompanham “Só Você”. O dueto de Marisa e Arnaldo é muito bonito. Mas destaca-se a quase imperceptível vocalização de Carlinhos, acompanhando o tom de Marisa, durante a música. Na próxima música, “Carnalismo”, Carlinhos Brown, canta alguns trechos sozinho, só então nota-se melhor a sua qualidade vocal.
Em “Aliança”, mudei de posição indo para o centro da pista próximo à house mix. Quando encontrava-me ao lado do palco o som não era muito definido. Não imaginei que a velha regra de ouvir o show o mais próximo possível da mesa de som, seria tão perceptível. Só aí noto a qualidade e clareza do som no anfiteatro.
Antes de “Até Parece”, Marisa ressalta a dificuldade de montar o setlist, com mais de 56 músicas compostas das parcerias do trio. Aliás, conta que Porto Alegre inspirara mais uma nova música.
“Não é Fácil”, mais um sucesso de Marisa Monte, faz o público bater palmas durante toda execução. Em “Sem Você”, destaca-se mais uma vez o trabalho gráfico e de cores nos telões. O som reverberando nas arquibancadas proporciona um resultado muito bonito, ao invés de atrapalhar. Em seguida “Lá de Longe” inunda o Beira Rio com estrelas, agora destacando as luzes.
No momento que Carlinhos Brown declama, enquanto Arnaldo e Marisa cantam “Lutar e Vencer”, as luzes e telões ganham um tom vermelho, e contrasta com a próxima música “Universo ao Meu Redor” com um clima muito mais cadenciado e de samba como em “Infinito Particular”.
O som do apito do trem em vários instrumentos de sopro, onde os três parecem brincar no palco, chama a “Paradeiro”, onde as vozes de Arnaldo Antunes e Marisa Monte, se intercalam.
A plenos pulmões o público canta “Amor I Love You”, proporcionando cenas de vários casais beijando-se ao redor. “Depois” mantém o ápice do show, agora com o trio no centro do palco com a lanterna de seus celulares, espelhando o que toda a multidão presente também fazia.
Mais uma vez o clima é quebrado com a empolgante “Trabalivre”, com muita dança no palco, e com Carlinhos brincando com a bateria e o público. A próxima canção é o sucesso “Passe em Casa”, com trechos da letra em preto e branco nos telões, e solos de gaita de Carlinhos. Mais uma vez, destaca-se a interação do trio com o público no final da canção.
A música que fecha a primeira parte do show é um dos grandes hits, “Já Sei namorar”, com um final apoteótico, e todos dançando com as mão para cima. Todos saem do palco, abraçados e com aparente satisfação com o show apresentado. Sensação equivalente se vê no público, que pede bis de uma forma diferente da habitual, seguindo cantando a vocalização do final da música anterior.
No bis a banda retorna com “Velha Infância”, e Marisa pede para o público cantar juntinho abraçados em alguém, mesmo que desconhecido, até a lua escutar lá de cima.
O show encerra-se com “Tribalistas”, em uma verdadeira festa na floresta, onde a banda larga os instrumentos e todos dançam como em uma roda cigana ou uma tribo indígena. Pétalas de rosas são jogadas e o clima de alegria toma conta de todos.
“Tribalegre” é a expressão inventada pelo trio e que melhor define Porto Alegre, naquele momento, quando o show encerra-se, exatamente às 23h22.
Um show que, sem ser piegas, ficará na memória dos privilegiados que compareceram na noite fria da última sexta-feira em Porto Alegre. Um show emocionante, inesquecível.
Vida longa aos Tribalistas!!
Setlist:
Tribalistas
Carnavália
Um Só
Vilarejo
Anjo da Guarda
Fora da Memória
Diáspora
Água Também é Mar
Um a Um
Ânima
Velha Infância
É Você
Carnalismo
Aliança
Até Parece
Não é Fácil
Sem Você
Lá de Longe
Lutar e Vencer
Universo ao Meu Redor
Infinito Particular
Paradeiro
Amor I Love You
Depois
Trabalivre
Passe em Casa
Já Sei Namorar
Bis
Velha Infância
Tribalistas
Agradecimentos à Opinião Produtora
