O conceito de álbum, tal como conhecíamos, foi ressignificado nos últimos anos. Antes, ao adquirir um disco físico, o fã dispunha de todo um ritual que ia desde abrir ansioso a embalagem até acompanhar letra por letra o encarte e, entre fotos e ilustrações, saber quem tocava tuba na faixa 8. Isso permitia ao artista – ou até exigia dele – certos artifícios que dessem àquele trabalho uma cara, como se houvesse uma espécie de elo narrativo entre as diferentes faixas.
Com o advento do streaming e das novas plataformas digitais, o músico pode agora disponibilizar um álbum completo ou um EP em singles aleatórios, a seu bel-prazer ou conforme seu planejamento de marketing. O certo é que, ao consumir assim, de maneira intermitente, cabe agora ao ouvinte mais atento a tarefa de seguir pistas. Uma canção que chegue ao público hoje não tem necessariamente nada a ver com a próxima do mesmo disco lançada daqui um mês - ou ter tudo a ver e passar despercebida.
Coincidência ou não, o novo álbum de ZéVitor chama-se justamente Ressignificar (previsão de lançamento em outubro de 2020), e a segunda música disponível, O Jeito Que Fala, não guarda aparente ligação com a primeira, Lua em Escorpião, a não ser pelo arranjo e pela atmosfera intimista, que, pensando bem, é característica mesma dos últimos trabalhos do cantor. Mas se a primeira se limita a descrever os aspectos mais marcantes da personalidade da musa inspiradora da canção sob um viés astrológico, na segunda o autor se expõe sem cerimônia desde o primeiro verso: “O jeito que fala com todos, você fala comigo e eu me sinto tão mal”. Ou ainda: “Você machucou tanto meu coração que ele não quer mais amar”.
Esse amor escancarado, tórrido, quase pueril não se opõe diametralmente à intensidade escorpiana anterior, é verdade, mas revela mais sobre o sujeito do que sobre o objeto, sem perder, porém, a natureza contemplativa que lhe é peculiar: “Pelo menos use aquelas joias que ficam tão lindas penduradas noutra joia que é você”.
Com apenas duas peças dentre as tantas faltantes, é prematuro dizer se tal quebra-cabeça formará uma imagem lógica ou abstrata, mas a montagem por si só já é um deleite. Falando nisso, a arte de Lucas Paixão que ilustra cada faixa sem dúvida ajuda na compreensão do disco, como uma fiel representação das palavras de ZéVitor em cores e formas.
Plataformas Digitais ZéVitor
Enviado por Ana Paula Silveira
Assessoria de Comunicação
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