Escrito por Ailton Magioli - EM Cultura
Além da música-título e da que abre o disco, também a capa sugere algo místico. Como você lida com a fé e a religião?
"Esperar que as coisas aconteçam como você idealizou é furada na certa, convite à frustração"
Produzida pelo marido Roberto de Carvalho há mais de 30 anos, a ex-mutante Rita Lee está de volta ao disco com a inconfundível ironia – e, também, diversão – de sua música. Aos 64 anos, no entanto, ela se aposentou dos palcos e mostra-se adepta de “macumbinhas caseiras para sair do buraco”. “Já fui mutante, hoje sou meditante, uma ateia iconoclasta”, justifica Rita, que classifica as 14 faixas inéditas de Reza de orações: “Cristãs, pagãs, porra-loucas, nirvânicas, retruturistas”.
Gravado no estúdio caseiro da artista, o 18º álbum solo de Rita Lee tem a faixa-título na trilha da novela Avenida Brasil, da Rede Globo, com direito a “clipe bem lisérgico”, exibido no Fantástico de domingo passado. Em tempos de crise generalizada da indústria fonográfica, reconhece Rita, “novela é a melhor vitrine musical”. Já na primeira oração (Pistis Sophia, dedicada a Nossa Senhora Aparecida), Rita mostra a que veio em um crescente que vai da prece à padroeira do Brasil ao bom e velho rock’n’roll, passando pela house disco e temas pop-jazzy-bossa.
Rita faz parcerias com Roberto de Carvalho em Tô um lixo, Divagando, Vidinha, As loucas, Paradise Brasil, Rapaz, Tutti fuditti, Gororoba e Pow, além da faixa-título, cujos versos – “Deus me proteja/ Da sua inveja... “ – já conquistaram fãs graças a Cadinho, o personagem mulherengo de Alexandre Borges na novela. Sozinha, Rita assina ainda Bixo grilo, Bagdá e Bamboogiewoogie. Desde Balacobaco, de 2003, a rainha do rock brasileiro não lançava disco de inéditas.
Confira, a seguir, trechos da entrevista de Rita Lee via e-mail.
Confira, a seguir, trechos da entrevista de Rita Lee via e-mail.
Além da música-título e da que abre o disco, também a capa sugere algo místico. Como você lida com a fé e a religião?
Tenho épocas de “entrar no buraco” e me cercar só de macumbinhas caseiras, orações, livros esquisitos, flores, bichos, incensos, ervas, santos, divindades. Já fui mutante, hoje sou meditante, uma ateia iconoclasta
Em tempos de crise na indústria fonográfica, há quem garanta que um disco sem música em trilha de telenovela não sobrevive. Concorda com a tese?
Novela é a melhor vitrine musical
Qual é a sua expectativa em relação ao disco, que, por sinal, já chegou às lojas?
Já faz um bom tempo na minha vida que procuro não ter expectativas em relação a nada nem a ninguém. Esperar que as coisas aconteçam como você idealizou é furada na certa, convite à frustração.
Como sobreviver a uma parceria sem crise de 35 anos com Roberto de Carvalho?
Parceria musical e amorosa, diga-se de passagem. Difícil explicar quando me perguntam a receita do bolo. Primeiro que não é bolo, tem a ver com sorte. Sabe quando você acerta na Mega-sena? Por aí.
O Roberto, sem dúvida, acabou dando nova identidade à sua música. Qual seria a principal contribuição de marido nesse sentido?
Não basta ser lindo, tem que ser Roberto. Ele é responsável por 70% do trabalho, além de compor e tocar praticamente todos os instrumentos. Roberto pré-mixa todas as músicas e desta vez ainda fez as fotografias da capa/contracapa/divulgação e o mais importante: ele diz que eu canto direitinho
As presenças do filho Beto Lee e do Igor Cavallera também reforçam a força do rock’n’roll no disco, não é mesmo?
Sem dúvida, dois representantes da mais alta graxa roqueira!
Desistiu dos shows mesmo ou vai fazer como Nana Caymmi, que, na sua trilha, anunciou aposentadoria, mas continua viajando o país?
Nana, com sua voz de veludo, não pode parar nunca. Quanto a mim, estou tão bem que diga ao povo que fico. Em casa.
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